Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Refém da Reforma da Previdência, governo precisa sair da letargia

por | 19/06/2019 | 0 Comentários

O otimismo de aprovar a reforma em poucos meses não levou em conta o perfil do Congresso Nacional e seus hábitos nem sempre republicanos de condicionar votações a benefícios

No dia no qual o Copom do banco Central inicia a sua sexta reunião em 2019 e terá pela frente decidir e definir qual a taxa Selic que continuará a ser praticada no Brasil, a revelação dos dados que apontam para o recuo de 0,9% no PIB do trimestre devem acender todos os sinais de alerta na equipe de governo, porque passados mais de 100 dias o que se observa é que o governo ainda continua batendo cabeça em pontos chaves.

Ninguém duvida da importância do embate ideológico e da cruzada pela limpeza da administração pública que estava aparelhada por companheiros de todos os matizes. Mas essa ação não pode consumir e sugar todas as energias do governo – porque acaba dilapidando o capital político do presidente. Nem ficar refém da Reforma da Previdência.

Quem deve defender a reforma da Previdência é o ministro da Casa
Civil, a quem cabe, junto com o ministro chefe da Secretaria de Governo, o
trabalho de articulação com o Congresso Nacional. Os desafios do ministro da Economia
vão muito além de enfrentar a turba colérica dos oposicionistas no Parlamento
ou então as corporações de servidores públicos.

O governo não pode aguardar somente a aprovação da Nova
Previdência no Congresso. Tem que agir em várias frentes como marcos regulatórios
para que os processos de privatização e de infraestrutura saiam do papel, dos
discursos e das gavetas da burocracia.

Há, ainda, um desafio que precisa ser atacado para que o
processo cotidiano da economia volte a funcionar: o governo precisa criar
mecanismos para atacar o alto endividamento das famílias e de empresas, principalmente
enfrentando o cartel dos bancos com as escorchantes taxas de juros e, paralelo
a isso, avançar na reforma tributária atacando aqueles itens que não dependem do
Congresso Nacional.

A retração na economia vem dentro de um cenário de forte
desaquecimento que já era perceptível ao longo de 2018 e que muitos atribuíam
as incertezas eleitorais e a falta de credibilidade do presidente Temer – além
das constantes ações policiais, gerando um clima de desconforto e de
inquietude. Mas esse estado de inanição não pode continuar, ainda que agora
tentem colocar de pé uma nova estratégia de fazer com que o governo passe para
a defensiva, dentro da divulgação dos diálogos pinçados de conversas hackeadas.

Não se trata de dividir o mundo entre bonzinhos e bandidos,
mas sim de entender que o jogo é muito mais bruto do que as pessoas imaginam –
porque o desejo dos que perderam é a busca desenfreada pela retomada de um
processo de dominação política e cultural, enquanto que os vencedores da
eleição presidencial indicam pela primeira vez o compromisso com a ruptura com
esse estado de coisas e com tantas práticas culturais, comportamentais e mesmo
econômicas que não estão de acordo com os valores professados pela maioria.

O que o governo precisa, com urgência, é definir qual o
papel de cada um dentro da engrenagem. O risco maior da estagnação da economia
é ela erodir todo o capital político do presidente, solapando a esperança
daqueles que votaram nele não como salvador da pátria, mas como um ponto de
inflexão diante de um cenário moralmente podre, eticamente corroído e
cinicamente aceito como normal pelos que agora continuam se posicionando em
favor do crime, da impunidade e da corrupção.

É hora do governo agir.

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