Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Mourão: de qual bolso sairá o discurso de 31/dez?

por | 31/12/2022 | 0 Comentários

Vaidoso ao extremo, o Gen. Mourão, que serviu como adido militar na Venezuela e nunca escondeu sua simpatia por coisas da China, tem em suas mãos a oportunidade resgatar a identidade e a vinculação das Forças Armadas com o povo brasileiro ou então, desejar um feliz ano novo…

Não paira nenhuma dúvida que o Gen. Mourão sempre foi uma ponta solta dentro do Governo Bolsonaro – a ponto de, por incontinência verbal, ser excluído de reuniões palacianas por sua predisposição a vazar dados, no seu afã de estabelecer boas relações com jornalistas. Mas, eis que, por ironia do destino, paira sobre o General uma nesga de esperança para a maior parte da sociedade brasileira, aquela que produz riqueza e gera prosperidade para todos, que continua entendendo os riscos reais que o País corre voltando mais uma vez e contra o desejo da sociedade para as mãos da esquerda.

Em termos bem simples pode-se dizer que o enigma é saber de qual dos bolsos que o Mourão irá tirar o discurso – e da sua opção e da sua decisão não depende apenas o futuro imediato do País, mas do próprio destino político do General.

A ambição política de Mourão certamente terá um peso representativo na sua opção, uma vez que ele já foi informado de que para a ala lulo-petista não interessa qualquer tipo de apoio ou negociação com ele senador. A esquerda tem bem viva a memória dos problemas que ele causou com seus discursos nos tempos idos de cleptocracia. Ele já está ciente, por interlocutores oficias, que ou ele faz um mea culpa público de humilhação e resignação, ou nada feito.

Não adianta romantismo, porque é óbvio que a imagem de Bolsonaro ficou chamuscada em todo esse episódio de fim de mandato – ainda que em nenhum momento ele tenha incentivado ninguém a ir ás ruas e portas de quartéis se manifestar. O desfecho de governo em um discurso lamurioso, quase um pedido de desculpas diante da impotência pessoal, chamuscará a biografia e a imagem do mito imbrochável. Por maior que seja o contorcionismo vocabular, restou patente que Bolsonaro não conseguiu reunir no seu entorno uma quantidade de pessoas que tivessem culhões para assumir a bronca e fazer um enfrentamento que priorizasse a defesa da efetiva separação dos poderes e um freio para a usurpação de competências por parte do STF que se tornou norma na vida política nacional.

Bolsonaro poderá cair (se já não caiu) num ostracismo político! Seu poder de convencimento, sua fé inabalável estão muito comprometidos! Mesmo retornando como vitorioso (e eu espero que isso ocorra), sua imagem foi chamuscada pelos responsáveis por todas essas incertezas: os oficiais generais das Três Forças. Bolsonaro, talvez por sua credulidade infantil, sempre esperou que a ala militar do seu governo (os generais, é claro) lhe fosse leal e apoiasse seu projeto de Brasil para os verdadeiros brasileiros. Ledo engano, foi traído inúmeras vezes pela maldita ” casta” militar. Nunca aceitaram que um reles capitão rebelde fosse o chefe deles! O Mourão, ah! O Mourão é um deles (companheiro de turma da AMAN do provável novo ministro chefe do GSI, Gen Gonçalves Dias, sobre o qual ainda irão ouvir falar muito). O Mourão representa, eufemisticamente, o retrato do embuste de líder que todo general acredita ser. O fato de estar garantido por 8 anos como senador (às custas da popularidade do Bolsonaro)demonstra toda a sua falta de lealdade e comprometimento com o cargo que ainda ocupa formalmente. Foi obscuro, indeciso e obsequioso com a mídia esquerdopata. Esperamos que não adote, como simbolismo personalista, o dístico de ” Senador general” ou o que é pior “General Senador”. Quem viver, verá!

Um fato chamou minha atenção: A imagem do isolamento e das indecisões de Bolsonaro era perceptível nas conversas com deputados que foram eleitos usando o seu nome e que revelavam entre chacotas a imagem de um presidente abandonado, lamuriento e sem iniciativa para comandar um processo de montagem ou modelagem de um futuro governo.

Mas, voltando ao Mourão…

Eis que chegamos aos estertores de uma partida decisiva e cabe um pênalti decisivo e a cobrança deste está nos pés (entenda de modo figurado) no mais improvável cobrador – de quem se pode esperar uma execução primorosa ou um chute pela linha lateral. E aqui entra a história dos dois bolsos: de qual deles virá o discurso?

Não é estranho a ninguém que Mourão é pessoa de inteligência e ávido devorador de livros de história e de estratégia. E imagino o quanto de dúvidas estejam neste momento perpassando por suas análises – ele que é pouco afeito a escutar conselhos ou a se seguir por eles (e essa opinião colhi de pessoas que trabalharam com ele durante a campanha eleitoral vitoriosa para o Senado pelo Rio Grande do Sul). Mas ninguém desconhece sua inteligência e a capacidade de ler e entender cenários.

Mourão tem olhos fixos em 2026, onde nunca escondeu que deseja ser o candidato da Direita, até pelos problemas jurídicos que já se anunciam para Bolsonaro. Assim, Mourão sabe que tem a oportunidade de assumir um protagonismo único e, ao mesmo tempo, definir um caminho de atuação dentro do campo conservador. Mourão também sabe que ele não é nome 100% palatável para este segmento que se uniu em torno de Bolsonaro – mas sabe também que sem o respaldo do “Bolsonarismo”, como a mídia gosta de estereotipar, nem ele e nenhum outro nome conseguem viabilizar eleitoralmente.

Há muitas teses e achismos circulando em grupos reservados e em conversas – mas achismo serve para futebol e conversa de mesa de bar, jamais para discutir e avaliar a realidade nacional.

Assim, Mourão está diante deste dilema e o discurso de 7 minutos marcado para esta noite de 31 de dezembro pode catapultá-lo politicamente ou empurrá-lo, com suas estrelas, condecorações e vaidade para a fileira daqueles que, no imaginário do brasileiro, servem apenas para pintar meio-fio.

Resta saber se ele vai pautar-se pelo idílico e imaginário Exército de Caxias que ainda vive arraigado na memória do povo brasileiro ou em um exército de apátridas e homens sem alma – imagem que se consolida no emocional do povo depois da confissão de impotência de Bolsonaro.

O desafio é simples: de qual bolso Mourão irá tirar o discurso…

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