Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

No poder, esquerda destruiu a mística das estatais como sendo “patrimônio dos brasileiros”

por | 21/08/2019 | 0 Comentários

A passagem da esquerda pelo poder quebrou a percepção de que as empresas públicas pertenciam ao Brasil. Depois da rapinagem, privatizar passou a ser visto como antídoto

Criei-me embalado pelo mantra de que as empresas públicas eram fundamentais para a soberania nacional e que elas cumpriam um papel estratégico importante para o fortalecimento da economia e melhoria da condição de vida de todos os brasileiros.

Essa falácia veio sendo incutida na cabeça e no emocional de muitas gerações pela doutrinação estratégica. É óbvio que houve um momento no qual coube ao Estado o papel de atacar áreas onde havia defasagem – mas esse tempo passou.

E passou também por culpa de uma inversão absurda de
parâmetros, quando as corporações se apossaram das empresas públicas e em lugar
de fazer com que atuassem em favor da sociedade, os funcionários passaram a se
preocupar em aumentar suas benesses.

Ainda que o episódio da privatização do sistema de telefonia tenha se revestido de uma grande e documentada negociata pelo governo de centro-esquerda comandado por FHC, a verdade é que aquele episódio começou a desmontar a aura de pseudoeficiência e modernidade que cercava as empresas públicas.

Quem viveu antes dos anos 90 sabe bem do que estou falando e das muitas histórias envolvendo sorteios e trambicagens para conseguir um número de celular. Hoje, na mercearia da minha quadra, pode-se comprar chip de qualquer operadora.

As notícias de falcatruas durante o processo de privatização
nos dois mandatos de FHC acabaram sendo o alimento que levou o PT, com seu
discurso centrado na ética e na promessa de ruptura daquelas práticas que
caracterizaram a passagem de FHC pelo poder, a vencer as eleições de 2002. Como
esquecer, por exemplo, o episódio da contratação, nos tempos de FHC, de
consultorias milionárias para mudar o nome do Banco do Brasil ou mesmo da
Petrobras?

Começava em janeiro de 2003 um tempo de descalabros que se arrastam nos tribunais até hoje – mas na eleição e 2006 ainda havia um senso de que as empresas públicas pertenciam à sociedade, tanto assim que Alckmin foi alvo de intensa campanha quando sugeriu a venda total do BB pelo governo. Lembro do alarido que as entidades ligadas ao funcionalismo do banco fizeram – apenas para manterem seus privilégios.

Passaram-se os anos e com a Lava Jato em várias outras operações a sociedade percebeu que os governos da cleptocracia haviam transformado as empresas públicas em moeda de barganha e de composição política. Fatiaram o governo, permitindo que os sócios do consórcio do assalto aos cofres públicos tivessem cada qual seu quinhão onde fazer dinheiro para si, para seus partidos e seus dirigentes.

E nada escapou da voracidade e da irresponsabilidade –
sucateando e facilitando a implantação da necessária desestatização em nosso
País. Não fosse a bandalheira leviana e irresponsável dos governos petistas –
cujos descalabros ainda continuam deixando os brasileiros estupefatos, como no
episódio dos empréstimos amigáveis a juros camaradas de 2,5% ao ano para
aquisição de jatinhos por amigos, artistas, políticos e empresários – e o
governo Bolsonaro poderia enfrentar resistências de alguns segmentos da
sociedade.

Mas, objetivamente, qual o benefício de manter tais empresas sob as asas do Estado? Torná-las alvos de governos compostos de irresponsáveis como foram nos tempos de FHC, Lula, Dilma e mesmo Temer? A destruição da reputação dessas empresas deve-se à passagem de saqueadores pelo governo brasileiro – e mesmo que eles voltem somente daqui há 100 anos, é bom privatizar tudo. Até porque sem ter onde roubar, talvez eles tenham menos motivação de voltar ao poder.

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