Para milhões de brasileiros a discussão política é algo recente. O que leva a equívocos e decepções. Tal qual o adolescente que descobre os deleites e as paixões nos braços de um amor pago e logo descobre que esse amor depende da troca de afagos por trocados, o brasileiro se joga nos braços de quem primeiro lhe faz algum afago…
Tal qual adolescentes apaixonados que juram amor eterno à primeira namorada, os conservadores brasileiros vivem paixões efêmeras, lancinantes e que cabem bem apenas aos poetas. A vida real demanda outras descobertas e outros cuidados, inclusive por conta das cicatrizes e das mágoas. Enquanto o apaixonado diz reiteradas vezes “nunca mais” e acaba voltando aos braços de quem o abandonou ou trocou por outro amor circunstancial, o político matreiro, sestroso e cínico releva a infidelidade, as traições e os xingamentos. É tudo um circo bizarro, que, para quem olha de longe, é um espetáculo degradante. Mas a classe política sabe que engolir sapos é normal, como disse Nereu Ramos. Assim, o que para muitos do lado de fora do circo é repugnante, para eles, os que jogam o jogo, é o caminho natural para ganhar muito dinheiro, fazer bons negócios e enriquecerem mutuamente. E as cotoveladas, as rasteiras e as eternas infidelidades fazem parte do jogo.
E a Direita cidadã enfrenta um dilema crucial: quer mudar a sujeira – sem sujar as suas mãos. Sabe que precisa negociar, mas tem medo de fazê-lo – e assim vive seu dilema existencial. Lembra a imagem de um jovem recém egresso de seminário que, de repente, se vê diante da porta de um prostíbulo. Curioso, oscila entre entrar e seguir sua jornada. Assim, por não ter informações que possibilitem dissecar o que está além da porta com a luz vermelha acesa, acaba condenando o sistema sem ter tido nem ao menos a coragem de enfrentá-lo no seu habitat. E posso lhes dizer que alguns parlamentares, poucos, infelizmente, tiveram a coragem de cruzar a porta e nem por isso se contaminaram pelo ambiente que descobriram e resolveram enfrentar.
São exceções, mas existem. Deste modo e por conta desta indefinição existencial, os conservadores em sua maioria acabam abrindo o flanco para outro tipo de mensageiros e mercadores – aqueles que falam e dizem exatamente o que ouvidos ávidos, corações sedentos e olhinhos apaixonados querem escutar. E quando se dão conta, percebem que foram trapaceados. Mas trata-se de processo natural de descobertas, afinal de contas até bem pouco tempo passado havia uma norma que determinava que assuntos atinentes à religião, à política e ao futebol deveriam ser evitados pelo equilíbrio da vida social.
Só existe um caminho para evitar tais decepções e as chamadas trairagens: o exercício. Tal qual o jovem egresso do seminário terá que decidir se entra ou segue o caminho, assim o campo conservador terá de decidir se entra na batalha ou se continua delegando aos outros o desafio – sujeitando-se a ser embalado por emoções que seduzem em programas no youtube, brilham no período de eleição e depois se revelam… traíras.
O dilema não existe, da mesma forma como a magia é apenas um jogo de sombras que fascina, ilude, encanta e… decepciona. É preciso viver a política no dia-a-dia, 24 horas – todos os dias. Vestido da couraça do bom cristão não será necessário apelar à relutância do jovem diante da porta do prostíbulo. É preciso encorajar mais e mais pessoas a não só escancarar a porta proibida, as suas janelas, lavar seus recintos e lutar para tornar o antro em um recinto onde todos tenham coragem e o direito de entrar.
Aceite o desafio de ajudar a limpar o grande prostíbulo no qual se transformou a política nacional, ainda que nesta jornada se decepcione com pessoas…
Gostei bastante do texto.
Jornalismo com credibilidade e com uma assertividade sem igual é no Canal de Brasília do jornalista Alfredo Bessow.
Ah, a política! Esse circo bizarro onde sapos e traíras são o menu diário. O dilema do jovem do seminário diante da porta vermelha é mais uma metáfora para a falta de coragem de muitos de nós. E a Direita cidadã, querendo mudar sem sujar as mãos… é isso aí, puritanismo com medo de entrar no prostíbulo! Mas e se dissecarmos a luz vermelha? Será que não é melhor entrar, se contaminar e talvez, quem sabe, enriquecer mutuamente com o negócio? A política é um jogo de sombras, e como a magia, pode ser iludora ou decepcionante. Mas acho que a melhor solução é apelar à relutância do jovem e, sim, entrar na batalha! Que tal um bom exercício?the prophecy deltarune