Transformar o Psol em “vencedor” das eleições não é malabarismo com os números, mas sim exercício de mau-caratismo e de desfaçatez. Na foto, dois derrotados que a mídia ignora: Ricardo Coutinho, do PSB, e Lula, do PT
É realmente notável o esforço que a mídia militante está
fazendo no sentido de impingir a Bolsonaro uma derrota que não aconteceu –
porque se teve um campo que foi efetivamente derrotado e diminuído em sua força
de representação política foi a esquerda. Enquanto não houver um amadurecimento
político do chamado campo Conservador – hoje ainda predominantemente anti-PT.
O caminho é longo neste processo de definição ideológica e
de superação da falta de informação e de formação política. Sem um partido
Conservador de abrangência e capilaridade nacional, é preciso reconhecer que há
políticos conservadores em todos os agrupamentos políticos do campo do Centro
para a Direita – e isso passa por Dem, MDB, PSDB, PP, PSB, PL, Patriotas,
Avante, Podemos, Republicanos, PSL e tantos outros em uma verdadeira salada de
frutas onde as conveniências regionais e os arranjos tradicionais, muitas vezes
decorrentes até de laços familiares, são muito mais importantes do que as
divisões e definições ideológicas.
É equívoco e precipitação atribuir ao Bolsonaro ou as
Conservadores a pecha de derrotados quando estes ainda estão em fase de
estruturação e delimitação e mais estranho ainda é escutar de conversadores que
se passam de especialistas em Conservadorismo que o discurso da mídia possui
nuances de realidade. Que fique bem claro: se houve algum derrotado – e houve!
– foi o campo da esquerda que perdeu muitas das prefeituras.
Vamos aos números, que fica mais fácil de entender – e aqui
uso os dados disponíveis no meio da tarde de segunda, dia 16.
Em 2016, os grupos de esquerda (PT-257, PSB-409, PDT-334,
Rede-6, Psol-2, PV-102, Cidadania-125, Pros-50, Solidariedade-62, PCdoB-82)
conquistaram 1.429 administrações municipais. Ainda que os números estejam
sujeitos a alterações, em 2020 temos um quadro que aponta (PT-179, PSB-250, PDT-311,
Rede-5, Psol-4, PV-47, Cidadania-139, Pros-40, Solidariedade-93, PCdoB-46),
atingindo 1.114 prefeituras.
Importante destacar ainda que neste campo da esquerda, TODAS
as siglas usaram o Fundo Eleitoral e o dinheiro de muitas outras fontes não
lícitas (sindicatos, ONGs, dinheiro do exterior, financiamento do tráfico e do
crime organizado).
Já escrevi e volto a repetir: a realidade das eleições
municipais é muito distinta de um embate em nível nacional, porque a realidade
política em nossa país é tão misturada que tivemos inúmeras chapas juntando PSL
e PT, sem contar as soluções locais colocando em um mesmo palanque PCdoB, DEM e
MDB.
Nunca é mais repetir que o discurso de que Bolsonaro seria o
derrotado já vinha sendo construído pela mídia há mais de 20 dias e só pode
causar surpresa em quem definitivamente acredita que a mídia tenha algum
compromisso com a informação.
Esse discurso mentiroso e sob medida será replicado nas
redes sociais e em jornalecos que ainda hoje não aceitam que Bolsonaro venceu
em 2018 e agora querem considera-lo derrotado em 2020.
Não sei porque, mas nada que venha da mídia consegue me
surpreender, tal o nível de obviedade. Para não dizer promíscua obscenidade.
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