Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Afinal de contas, o governo Bolsonaro começará “agora” ou não?

por | 31/01/2021 | 0 Comentários

A presença de Rodrigo “Botafogo” Maia serviu como uma desculpa para muitos equívocos, erros e trapalhadas do governo. Sem ele, Bolsonaro e sua equipe terão, enfim, possiblidade de mostrar serviço.

Há um consenso de que o presidente Bolsonaro soube
ardilosamente terceirizar muitos de seus equívocos políticos graças ao papel
torpe desempenhado por Rodrigo Maia no comando da Câmara dos Deputados. A
figura de vilão e de traidor que Botafogo desempenhou acabou mantendo os
índices de popularidade do presidente em alta, mas o quadro não é assim tão
tranquilo como querem ou defendem alguns de seus mais entusiasmados defensores.

Pesquisa divulgada neste domingo pela Paraná Pesquisas realizada
entre os dias 22 e 26 de janeiro – ou seja, no ápice da falta de oxigênio em
Manaus – tendo como base 2.002 eleitores em 26 estados mais o DF, os dados não
são assim tão tranquilos como alguns arroubos podem indicar e também não tão
aterradores quanto os vendedores do caos tentam insinuar.

Em primeiro lugar, o óbvio: a avaliação de Bolsonaro é
melhor do que a aprovação do seu governo e isso decorre de algo que eu, particularmente,
tenho dito em tantos e reiterados vídeos que já estou ficando repetitivo: temos
um governo que tem uma das piores comunicações da história recente da República.
O presidente sabe se comunicar, enquanto que a turma responsável pela parte da
comunicação do governo deveria ser toda ela colocada em uma sala e simplesmente
dada a descarga: não fariam falta nenhuma.

Vejamos a diferença:

  1. 48,5% desaprovam o Governo Bolsonaro – enquanto que
    47,5% aprovam o governo.
  2. 58,7% avaliam positivamente o presidente (Ótimo,
    Bom e Regular) e 39,6% avaliam como péssima/ruim.

Em relação a dezembro/2020, a avaliação do presidente teve
uma queda: era de 61,1% (caiu para 58,7%) e 37,3% (subiu para 39,6%). Toda
pesquisa é, sempre, retrato de momento, e esta foi captada no auge da crise de Manaus
onde ficou mais uma vez flagrante a infantilidade da comunicação do governo.
Parece um bando de moscas tontas que de repente ficam procurando o pote de mel.

Voltando ao fim do “reinado” de Rodrigo Maia, o melhor álibi
que Bolsonaro teve para contornar alguns de seus equívocos decorrentes muitas
vezes de sua dificuldade de vencer seus próprios conceitos políticos – ele que
ainda é, e sejamos sinceros e realistas, um político de formação
corporativista. A sua conversão ao liberalismo é um processo em marcha e são
perceptíveis as suas ações saudosistas do tempo do “estado grande”, como na
dificuldade de aceitar que o BB deixe de ser um mastodonte mais a serviço do corpo
funcional do que para a sociedade propriamente dita. E esse quadro se repete em
todas as demais estatais, que foram cooptadas pelas corporações e que deixaram
de ser empresas a serviço da sociedade para se transformarem em fontes de
privilégios.

Sem Rodrigo Maia para assumir a culpa, a equipe de Bolsonaro (e ele próprio) terá de assumir um protagonismo que tirante os ministros Paulo Guedes, Damares, Salles e o Chanceler Ernesto, Tarcísio, os demais (ATUAIS) não têm capacidade e nem competência para tanto. Limitam-se a repetir modelitos que supostamente já estão dando certo, ainda que não passem de repetidores de armadilhas – como no caso das commodities do agronegócio.

Estou entre aqueles que acreditam que governar é a arte de
escolher pela política os melhores entre os melhores e mesmo sabendo que o
Congresso Nacional não chega a ser uma casa de virtudes ou de pessoas
virtuosas, também não me dou o direito de julgar que o estereótipo de ladrão e
corrupto caiba e sirva a todos.

Vou pegar, por exemplo, a área de turismo – até por manter
uma revista voltada a esse segmento desde 1998 e também um site: poucas vezes
houve um ministro tão inepto e incompetente quanto Marcelo Álvaro Antonio e que
se manteve no cargo por dois anos sem nada fazer – nem mesmo pelo turismo do
seu estado ou pelo Mar de Minas… A informação de que será substituído por
Roberto de Lucena como parte da reestruturação da equipe ministerial já
demonstra uma mudança de patamar – e que as mudanças alcancem outros setores,
inclusive e principalmente a comunicação.

Que Bolsonaro aproveite a mudança de comando da Câmara dos
Deputados – porque no Senado entrará um aliado de Batoré, mas o Senado nunca
foi problema para o governo Bolsonaro e os problemas com o Senado foram mais as
desavenças de parte da militância conservadora que ainda sonha com processos de
impeachment de ministros do STF, algo que deverá ocorrer após a segunda nevasca
que cair sobre Brasília.

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