Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Eleições 2020: um recado claro para a Direita Nutela

por | 16/11/2020 | 0 Comentários

Ainda que a mídia já venha martelando ao longo das últimas semanas que as urnas derrotariam Bolsonaro, a verdade é que as eleições deste domingo mostraram que as eleições municipais guiam-se por uma lógica fisiológica, clientelista e onde o dinheiro define os eleitos

Sempre é muito chato você recorrer ao bordão tipo “eu avisei”,
mas a bem da verdade o que estamos vivendo neste domingo de 15 de novembro vem
sendo escrito, vem sendo dito e vem sendo falado por muitos desde a
surpreendente vitória de Bolsonaro em 2018 – contra todos os prognósticos e
enfrentando um sistema que traz vícios que acabam moldando o padrão de
democracia a um conjunto de “condicionantes” que beneficiam a corrupção, a
fisiologia, o clientelismo e alimentam a base operacional do sistema que é a
impunidade.

Inúmeras vezes disse que independente do resultado
eleitoral, a mídia e o stablishment já tinham definido que Bolsonaro seria o
perdedor do pleito – porque isso interessa à modelagem de um discurso de volta
à normalidade. E isso ficou manifesto na voz daquele que melhor personifica a
banda podre da política nacional, alguém que tem coragem de assumir ser o
representante deste segmento que a sociedade brasileira pensou ter derrotado em
2018 e que agora é saudado como vencedor.

Em entrevista publicada em O Globo (site), Rodrigo Maia se
deu o direito de reinventar a matemática para dizer: “Agora está representando,
na verdade, o tamanho do núcleo dele, que era muito menor do que os 46% dos
votos que ele teve. E aí a influência menor dos votos nas capitais onde a
cobrança da sociedade é sempre muito maior que nos municípios do interior,
apontou o deputado.” Na mesma entrevista, ele saudou a volta dos profissionais,
dos antigos políticos para a cena.

Publiquei artigo aqui no blog em 15 de fevereiro de 2019 sob
o título “O Governo Bolsonaro precisa priorizar a Reforma Política ou vai
naufragar” onde eu dizia que a oportunidade para tentar mudar as regras do jogo
era ali, com um Congresso ainda fragmentado e impactado pelo recado das urnas,
com os grupos ainda dispersos e a mobilização popular. Optou por mandar pacotes
de emendas para contentar o mercado, com a Reforma da Previdência, e o grupo
lava-jatista com o pacote anti-crime do Moro. Gastou a munição e perdeu tempo e
quando viu que corria sério risco de sofrer impeachment, acabou se socorrendo
do Centrão – já reaglutinado, sob o comando das mesmas figuras que foram cúmplices
da roubalheira dos governos da cleptocracia petista.

Ao não enfrentar o desafio de fazer a reforma eleitoral
Bolsonaro acabou sendo forçado a negociar o apoio no Parlamento com o segmento
que faz do toma lá dá cá o seu modus operandi político – independente de quem
seja o presidente eleito e quais as bandeiras que ele defenda. O sistema não é
apenas bruto, mas principalmente ele é impiedoso e se move segundo suas leis e
seus códigos.

Por fim, a eleição também deixou claro que são dois
universos muito distintos as eleições municipais e as eleições presidenciais,
ainda que isso não seja levado em conta pela mídia. Na eleição municipal, o que
conta é o clientelismo puro é ter dinheiro para realmente comprar votos,
através da capilaridade e da cooptação de cabos eleitorais, lideranças
comunitárias e a mais desavergonhada troca de favores. Muitos candidatos
conservadores foram para o pleito como quem vai para um duelo a moda antiga,
com regras definidas e cumpridas. E se defrontaram com um mundo cruel, que
acabou assustando alguns mais ingênuos que acreditaram que o trinômio SSS –
sola, suor e saliva tantas vezes decantado em prosa e verso fosse verdadeiro.
Assustados, perceberam que o verdadeiro condão eleitoral é $ – duro dizer isso?
Muito mais duro e cruel é aceitar essa realidade… E isso que muitos pensavam
ser algo característico do nordeste, percebeu-se na carne que é algo enraizado
no eleitorado nacional. Em todo país.

Claro que os Conservadores precisam fazer um “mea culpa”, a
começar pelo bate-cabeça e pelo embate de vaidades e a própria falta de um
partido que congregasse as verdadeiras opções do campo da Direita. Sem partido,
até o PT pode se apresentar para um incauto como sendo uma opção neste sentido.
Sem partido, o próprio Bolsonaro ficou saltitando de uma sigla para outra em
seus apoios localizados – o que, na minha visão, foi algo muito bem utilizado
pela mídia e pelos demais partidos.

A dúvida que eu realmente tenho é se os Conservadores serão
capazes de entender o que aconteceu ou se deixarão levar por aquilo que a mídia
irá martelar como realidade. Até porque isso terá um impacto muito forte e
muito grande em tudo que irá ocorrer até 2022…

Simplificando: ou o povo volta pra rua ou será triturado pelo discurso monocórdico da mídia de que Bolsonaro foi derrotado e a onda conservadora acabou.

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