Em lugar de sorriso e abraços, um ar de preocupação marcou muitas das sempre ruidosas festas de fim de ano das embaixadas
As tradicionais e sempre alegres e festivas reuniões de congraçamento entre representações diplomáticas que marcam o fim de ano em Brasília deixaram transparecer em 2018 um ar de tristeza e, em alguns casos, de despedida. Não pelo fim do tempo de estada em nosso país, mas pelo fato de pairar dúvida do que irá acontecer em 2019 com a chegada de um novo governo e que fará uma ruptura com a política externa implementada nos últimos anos.
Se diplomatas de todos os níveis já são por si só reservados, imagina em situações de visível desconforto. Entre conversas, circulam informações de que o futuro chanceler pretende fechar representações que, na avaliação do novo governo, não justificam uma estrutura cara. A ideia seria turbinar polos/países e regiões com os quais as trocas comerciais, os intercâmbios e o fluxo de turistas e de negócios compense o investimento.
Ao definir um parâmetro de aliados e, ao mesmo tempo, deixar bem claro quem são seus adversários, o governo Bolsonaro sinaliza o reposicionamento externo do Brasil, abandonando a fraternidade dos países mais pobres e priorizando onde as possibilidades de negócios são mais factíveis.
Exemplo dessa guinada foi a criação de um setor voltado ao agronegócio, bem como o retorno da Apex para a estrutura do MRE. Alguns setores pretendem enfim implementar uma proposta de que cada embaixada brasileira também sirva como suporte para divulgar o Brasil como destino para turismo de lazer e de negócios (essa ideia foi delineada quando Dória, hoje governador de São Paulo, foi presidente da Embratur). Na época, o corporativismo, a falta de vontade de trabalhar e a inércia do Itamaraty inviabilizaram que a ideia se transformasse em realidade.
Entre os casos emblemáticos, um dos que mais chama a atenção é a localização da Embaixada da Palestina, em terreno doado por Lula e localizado em área tida como de segurança nacional – em face de sua proximidade com o Palácio do Planalto.
Cientes desse novo cenário, o pessoal diplomático usou um “até 2019, se ainda estivermos por aqui” como despedida das festas, onde os sorrisos foram trocados pela apreensão – inclusive porque para muitos, voltar para a dureza dos seus países, é verdadeiro castigo.
0 comentários