Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Êxito do governo Bolsonaro não interessa a muita gente

por | 07/05/2019 | 0 Comentários

Depois de Paulinho da Força Sindical dizer que é preciso “desidratar” a Reforma da Previdência para não reeleger Bolsonaro, alas do próprio governo parece atuarem no mesmo sentido

Existem situações que revelam a dimensão dos interesses
envolvidos na medida em que o tempo vai passando. Nunca é demais lembrar,
repetir e enfatizar: o eleitor brasileiro votou em 2018 por uma nova forma de fazer
política. O antipetismo veio da esteira do antitucanismo, uma vez que os dois –
PT e PSDB – atuam centrados em uma mesma pauta que, sob o biombo social-democrata,
dissimula os verdadeiros intentos de que a pugna que travam é apenas pelo poder.

Mas o establishment possui garras, tentáculos e capacidade
de sedução que os mortais que vivem o cotidiano de suas vidas longe do jogo do
poder nem conseguem imaginar. O governo eleito com o compromisso da ruptura – e
é preciso deixar bem claro que NENHUM eleitor de Bolsonaro votou nele apenas
para centrar sua ação política na aprovação da Reforma da Previdência – enfrenta
uma luta cotidiana exatamente pelos interesses que qualquer ação nesse sentido
representa.

Poucas foram as iniciativas de desratizar a administração
pública do vírus da cleptocracia endêmica que se apropriou da máquina estatal
brasileira nos últimos tempos. O ministro chefe da Casa Civil alardeou que
exoneraria todos os petistas, começou a fazê-lo e, subitamente sabe-se lá por
quais razões ou em quais condições, não apenas abandonou a ideia como acabou
incorporando a sua equipe inclusive pessoas com forte atuação nas hostes
vermelhas – talvez uma deferência nada insuspeita ao seu clube do coração ou
então a um acordo tácito de não manter na imprensa o incômodo da lembrança de
suas lambanças com as chamadas doações não declaradas. Ou Caixa 2, se assim
ficar mais fácil de entender.

Uma segunda iniciativa de desratizar o governo foi abortada
nessa segunda-feira, 7, quando o ministro Santos Cruz emplacou um testa de
ferro seu no comando da Apex, sob aplausos eufóricos e entusiasmados da mídia.
E qual o crime cometido pelos ejetados de cargos: a não aquiescência com a
manutenção de práticas lesivas, a não renovação de contratos espúrios, o
fechamento de unidades da Agência no exterior que não se justificavam economicamente,
a não renovação de estapafúrdios contratos com “artistas” e empresas
especializadas em levar atrações brasileiras ao exterior e tantos outros focos
de podridão que estavam sendo extirpados e que agora sonham, com razão, em ter
uma sobrevida às custas dos contribuintes.

Ao menos para mim, existem pessoas, grupos e forças que
estão dentro (e fora) do governo e que atuam diretamente de modo orgânico,
estratégico e coordenado na pressão e na chantagem cotidiana contra a
manutenção, por Bolsonaro, dos compromissos de ruptura com a bandalheira. E são
esses grupos, apenas por acaso, que acabam sendo os mais aquinhoados pela
exposição positiva pela mídia.

O único caminho que ainda resta ao presidente para fugir da
tutela dos militares, que depois de serem durante décadas escorraçados e
estereotipados pela mídia e pela esquerda como trogloditas, parece que foram
tomados pela Síndrome de Estocolmo, e agora passaram a aceitar que a mídia e a
esquerda tinha razão na transformação deles (militares) como símbolos da
truculência e lutam para mostrar que eles não apenas são aquilo que diziam, mas
se prestam sim aos serviços que a mídia e a esquerda de um modo geral espera
deles: inviabilizar o governo de ruptura que levou Bolsonaro até a vitória.

Ou o presidente rompe com essa camisa de força que ele
próprio alimentou, ou vai ser devorado por aquilo que ele pensou que poderia
ser uma espécie de linha de proteção. Manter Santos Cruz em posição de 1º
ministro, interferindo em ministérios e definindo inclusive ocupantes de cargos
estratégicos é um equívoco perigoso, ainda que represente atender aos anseios e
as pressões de quem precisa que o governo caminhe para o centro.

E definitivamente não foi para isso que Bolsonaro foi
eleito. E ele sabe disso.

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