Para entender a comunicação é necessário aceitar que ela é cada vez mais apenas uma ferramenta a serviço de grupos econômicos
Muito antes da posse do presidente eleito em outubro, que representou uma ruptura ideológica sem precedentes na política, a mídia assumiu para si o papel de guardiã do poder de definir o que é certo e o que é errado. E assim, de modo errático – mas com uma patuleia atenta e disposta a absorver tudo que lhe é repassado – vai tateando um cenário que ela não conhece, tentando mostrar uma familiaridade que não possui.
Reinventa a realidade perversa, tentando justificar-se no papel de única e última referência de civilidade diante à barbárie que se aproxima. Apaga a sua própria conivência e relação nada republicana com as arcas públicas para arvorar a si um título de vetusta sobriedade. Ao delimitar a si própria uma condição de “guardiã”, a mídia trabalha não mais como uma fonte de informação plural, mas como instrumento de defesa do “bem” que ela própria julga representar e a quem cabe defender.
Valendo-se da “pós-verdade”, jornalistas transformam fuxicos e fofocas em informações idôneas, amparadas no preceito profissional e constitucional de sigilo de fontes – agora com o valor agregado de outros subterfúgios linguísticos e semânticos como “informou na condição de anonimato”, algo que é usado no mais das vezes como o verniz para buscar alguma credibilidade ao que ecoa no burburinhos de todos os corredores do poder.
Observo que a decisão da mídia de pautar sua atuação pela pós-verdade aconteceu entre o 1º e 2º turnos das eleições presidenciais aqui no Brasil quando os noticiários centraram todos os ataques contra Bolsonaro como sinônimo de ditadura – enquanto que Haddad e sua manifesta simpatia por regimes ditatoriais (Cuba, Coréia do Norte, Venezuela e mesmo Nicarágua) foram deixados de lado.
Da mesma forma, na semana passada, a mídia se valeu de modo ostensivo de um vazamento do Coaf – que ficou feito vaca de presépio durante os 16 anos de governos do PT – dando conta de movimentações atípicas em contas correntes de pessoas próximas do presidente eleito, como forma de obliterar o impacto da delação de Palocci dando conta de que com apenas a assinatura de uma Medida Provisória o genial filho de Lula levou uma bolada de quase R$ 3 milhões.
Fica, pois, claro que a pós-verdade será a ferramenta a ser utilizada pela mídia – e também pelos beócios que nela têm a única fonte de informação – para adequar a realidade ao seu projeto de omitir o passado.
Essa é, na verdade, a estratégia desses grupos de comunicação como forma de manter sua relação espúria de acesso às verbas publicitárias e a outras fontes de recursos, visto que na maioria das vezes, o “veículo de comunicação” é apenas a ferramenta de pressão para acordos e contratos com outras empresas ligadas a ele.
0 comentários