Ao adotar a estratégia suicida de só atacar, o ministro Moraes do STF corre o risco de aumentar na sociedade a percepção do descompasso entre a corte e a sociedade
Parece incrível, mas o ministro Alexandre de Moraes,
guindado ao STF não por supostos conhecimentos jurídicos, mas por ter protegido
fotos íntimas de Marcela Temer, ainda não se deu conta de que, muitas vezes, ao
contrário do seu cliente mais famoso nos tempos de advocacia, há momentos nos
quais é preciso recuar e assimilar a derrota.
Ao manter a linha de confronto – ao modo do PCC, das
milícias, do PT e de outras facções criminosas – Moraes corre o sério risco de
ser desautorizado pelos demais membros do STF. Com exceção de Toffoli, outro
que chegou lá sem nenhuma justificativa plausível, a não ser o fato de ter sido
advogado do PT – o que, convenhamos, é uma mácula no currículo – percebe-se que
os demais se mostram desconfortáveis com as diatribes do colega.
É revelador desse quadro, por exemplo, o silêncio do sempre boquirroto
Gilmar Mendes, como é também suspeito o silêncio envergonhado da mídia que, ao
contrário do que sempre faz, dessa vez não escutou Ayres Brito e outros
ex-ministros.
A jornada de insanidade que o ministro Moraes vem encetando
deve sim fazer com que a sociedade pense até que ponto é possível que exista um
poder acima dos poderes, um poder que não precisa prestar contas de seus atos e
onde seus membros e integrantes podem cometer toda sorte de insanidade e,
quando flagrados comprovadamente, são “aposentados”, mantendo proventos e
vantagens.
A balança do necessário equilíbrio entre os três poderes,
pilares do sistema democrático, está totalmente defasada, porque o CNJ-Conselho
Nacional de Justiça, que surgiu como uma esperança de ser um espaço para a
sociedade, se transformou em uma estrutura a mais para reforçar o espírito de
corpo e a impunidade dos magistrados.
Volto a citar Rui Barbosa e não há como não reconhecer que
se trata de um vaticínio assustadoramente atual: “A pior ditadura é a ditadura
do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.
O que justifica esse poder mais do que divino que é
concedido a mortais que ascendem hierarquicamente na troca de favores, na
barganha e muitas vezes na chantagem e na ameaça? Considero fundamental que o
STF seja reinventado, mas não com esses que hoje lá estão, todos eles
comprometidos com quem os indicou e, pior, fazendo com que seus filhos e
apaniguados acabem subindo dentro do Judiciário por conta de consanguinidade.
Da mesma forma que há um clamor por uma nova política,
também é preciso fazer chegar aos magistrados – e não apenas do STF – o recado
de que a sociedade quer um novo judiciário. Com transparência e comprometido
com os anseios do povo em favor de justiça e de liberdade – não esse judiciário
que se tornou uma ferramenta em favor da impunidade.
Feito crianças birrentas, Moraes e Toffoli não perceberam
que com sua teimosia, podem estar colocando em risco a sobrevivência do playground
onde boa parte da casta do Judiciário brasileiro brinca e se diverte, protegida
e isolada dos anseios da sociedade.
Tiroteio
– Todo aprendizado implica em dores e perdas, mas, lá
adiante, há possibilidade de ganhos. O batismo da bancada eleita pelas redes
sociais tem sido dolorido já na tramitação da proposta da Reforma da
Previdência. Mas isso pode ajudar o governo Bolsonaro, porque serão no mínimo
quatro anos de muitos aprendizados.
– Quem conhece a realidade política de Minas sentencia: o
verdadeiro desejo da federal Alê Silva (PSL), a primeira a denunciar a
existência não comprovada de um laranjal em sua sigla, é de ser “expulsa” e,
assim, migrar com um discurso oportunista para o Novo – já com a promessa do
governador Romeu Zema e da cúpula nacional do partido, de ficar todo o Vale do
Aço em mãos de aliados seus.
– A inutilidade das bancadas temáticas foi uma grande
contribuição do Governo Bolsonaro para a política nacional. É o povo que se
reúne e, sob o discurso de discutir a realidade nacional, tentam mesmo é levar
vantagem. A turma do turismo, por exemplo, advoga a volta de Max Beltrão para a
cadeira de ministro – logo ele, o despachante aliado de Renan Calheiros. O
argumento é que com o Max no ministério, os pleitos da “frente” eram
rapidamente atendidos.
– A Semana Santa enseja sempre a lembrança do sacrifício e
morte na cruz de Jesus, mas também a traição de Judas – uma prática que faz
parte da política. Quem condena Judas por trair, perdoa a traição de quem
recebeu seu voto e agora vota conforme suas conveniências e interesses?
– Campanha para ajudar na reconstrução de Notre-Dame
angariou em menos de 48 horas a bagatela de U$ 900 milhões das famílias mais
ricas da França – incluindo algumas empresas. E, pelo que se sabe, sem
benefícios fiscais – ao menos divulgados.
0 comentários