Não é a nomeação do “juiz” que mexeu com aliados e adversários, mas sim tudo que essa mexida representa
Por Alfredo Bessow
Para quem imaginava que o Bolsonaro presidente seria a continuidade do Bolsonaro candidato, um aviso: sim, ele continuará sendo o mesmo – revelando um feeling que muitos pensavam não possuir. Isso se reflete na forma como vem resgatando os compromissos diretos e indiretos assumidos com o eleitorado. Quando disse, lá atrás, que não pensa em reeleição, ficou muito claro que ele usaria de muita estratégia para montar uma equipe de governo que lhe possibilitasse, num cenário político que continuará polarizado, chegar com bons níveis de competitividade nas eleições municipais de 2020 e – por que não? – sonhar com alguém em condições de sucedê-lo em 2022.
Pode soar estranho trabalhar em um cenário volátil e movediço como é a política com tal antecedência. Mas o exemplo vivido pelo PT mostrou que soluções de última hora costumam ser catastróficas – ainda que vitoriosas.
Porque noves fora, Moro seria um nome que naturalmente viria a tona – com o êxito do governo Bolsonaro com viés de “sucessão” e em caso de naufrágio de Bolsonaro, Moro poderia ser lamentado como aquele que, podendo ser, não foi.
A grosso modo, seria imputado a Moro o julgamento que muitos fazem ao ex-ministro Joaquim Barbosa – que teria sido a bola da vez em 2014 e abriu mão.
Dar visibilidade para Moro em uma pasta reforçada que englobará as estruturas da Justiça, Segurança Pública (vai no pacote a PF), Transparência, CGU e Coaf, hoje ligado ao ministério da Fazenda e que faz um acompanhamento permanente de toda movimentação financeira nas contas correntes, é uma estratégia também de blindagem em relação à antecipação da disputa eleitoral – que é o sonho de consumo de boa parte da oposição. OU seja: Moro virou o nome e a bola do futuro.
As pessoas começam a perceber que Bolsonaro não tem nada de troglodita, especialista em frases de efeito: é um especialista que trabalha de modo sistemático com a inteligência de um especialista em estratégias de guerra não convencional. Sim, com a indicação de Moro para o seu ministério, Bolsonaro deu à oposição (basicamente o PT) um motivo para destilar mágoas, ódios e teorias conspiratórias. E terá de deixar Bolsonaro em segundo plano, porque uma oposição fragmentada e dividida não é capaz de atacar dois alvos ao mesmo tempo.
Digo: os próximos meses têm tudo para serem muito, mas muito divertidos. E sei que você entende o sentido dessa palavra, nesse contexto e diante de tudo que vem acontecendo.
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