Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

O espontaneísmo como ação política é sempre uma aposta perigosa

por | 16/07/2019 | 0 Comentários

O presidente Bolsonaro parece confiar mais no seu feeling pessoal do que numa estratégia de governo que enseje a percepção de previsibilidade, onde os fatos acontecem como parte de um projeto

Ao trombetear aos quatro ventos o seu desejo de transformar
o filho e deputado federal Eduardo Bolsonaro em Embaixador do Brasil nos EUA, o
presidente Bolsonaro conseguiu atrair para si todos os holofotes, desviando a
atenção da mídia que estava com todos os espaços disponíveis generosamente
falando da “vitória” de Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, com a
conclusão da votação em 1º turno da Reforma da Previdência.

Se era essa a estratégia do presidente, funcionou – mas
agora é hora dele próprio ter a percepção de reconhecer que o seu desejo não é
compartilhado por boa parte dos seus seguidores nas redes sociais. Há
expressiva contrariedade com a medida – e aqui não entra, em hipótese alguma, a
defesa corporativa da carreira Diplomática como única que pode fornecer quadros
para comandar missões brasileiras no exterior. Nem vou lembrar os casos e as
histórias que envolvem indicações de pessoal de carreira e de “estranhos” –
porque se formos pautar por esse princípio, certamente poucos embaixadores poderiam
ser considerados como habilitados ou capazes para comandar uma pastelaria,
muito menos uma embaixada.

Quem vive e mora em Brasília sabe das histórias bizarras
propiciadas por embaixadores e seus familiares em missões diplomáticas. São
histórias escabrosas e que, a bem da verdade, mais recomendariam que o
Instituto Rio Branco tivesse suas portas fechadas, boa parte dos “embaixadores”
demitidos a bem do serviço público e se começasse do zero. Os poucos asos que
chegam até as páginas policiais são um nada no cotidiano de assédio moral,
sexual, favorecimentos, troca de favores e divisão da “casa” em grupos, alas e
tendências.

O que mais conta para ter êxito no Itamaraty é estar aliado
dentro de uma corrente comportamental e de uma linhagem familiar – sim, o
Itamaraty funciona como uma espécie de capitania hereditária! – do que a
capacidade individual, que é sempre muito subjetiva em um ambiente tão
protocolar quanto falso, tão artificial quanto a nobre arte de usar os talheres
e as taças adequadamente e falar baixinho e rir sem expressar sentimentos.

A minha contrariedade é pelo papel político que cabe a
Eduardo Bolsonaro – aparentemente o mais discreto e politicamente coerente dos
filhos de Bolsonaro.

O que o presidente parece não levar em conta é o peso e a
importância política de alguém que foi eleito com mais de 2 milhões de votos –
e duvido que um só tenha votado nele para que, seis meses depois, ele não
apenas renunciasse ao mandato, como deixasse esse exército de eleitores órfãos.

Trair a confiança e o compromisso que se assume com o
eleitor nunca é algo justificável. Ao renunciar, Eduardo se insere na mesma
linha de outros que “traíram” eleitores de São Paulo, renunciando ao
compromisso assumido com quem nele votou. E temos Serra, o próprio Dória – que
na eleição para governador foi derrotado na cidade de São Paulo por conta da
falta de palavra, de compromisso.

E Eduardo não deixará na orfandade apenas os que nele votaram, mas o próprio PSL em São Paulo, onde se posiciona como a única voz a defender uma proposta política clara e não apenas usar o nome do partido e do próprio presidente como link eleitoral.

Com Eduardo Bolsonaro na disputa em São Paulo torna-se real
e palpável o fim do domínio tucano na capital paulista – quer com ele próprio
sendo candidato ou alguém por ele apoiado.

Aceitar o “cargo” de Embaixador – mesmo que seja na mais
cobiçada das embaixadas – é deixar à deriva um projeto de formação de um
pensamento político de direita em nosso país, através da clareza de entender e
aceitar o desafio de apoiar e incentivar a formação de quadros, não para o curto
prazo – mas dentro de uma visão do exercício da política e do poder que vá
muito além do efêmero, do circunstancial e que possa servir como uma
alternativa de mudança de paradigma na forma de fazer política e encarar e
tratar os grandes desafios nacionais.

Talvez falte ao presidente a capacidade de compreensão de
tudo isso – porque ao avaliar que as críticas que são feitas pela indicação d
Eduardo comprovam o acerto de sua iniciativa ele reage como o treinador teimoso
que insiste com um jogador, contrariando a opinião da torcida do seu próprio
time.

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