Curvar-se à norma segunda a qual é preciso fazer concessões e mais concessões em troca de uma suposta governabilidade serve para fortalecer grupos como o Centrão
Ao tomar posse no começo de 2003, o PT já tinha vencido o
debate interno se, uma vez no comando da nação, ele trataria de colocar sua
agenda ética em vigor ou se optaria pelo pragmatismo de se submeter a “acordos
de governabilidade”. Lembro de ter entrevistado José Genoíno, então presidente
do PT, ainda no primeiro ano do mandato de Lula, e depois de discorrer sobre as
injustiças do sistema previdenciário nacional, confessou que, se fosse dizer,
ninguém entenderia as concessões que o partido teve que fazer em nome da governabilidade.
E todo mundo sabe bem no que redundou o pragmatismo das
gestões marcadas pela cleptocracia – a começar por gostar das benesses do
poder, da irrigação financeira que os esquemas de corrupção herdados dos oito
anos de FHC/PSDB propiciaram (Marcos Valério, contratos, etc).
A proposta que levou Bolsonaro a ser eleito sempre foi
pautada pela promessa, pelo compromisso, de romper com esse jogo sórdido, com
essa troca desavergonhada de favores, com essa barganha e com essa chantagem. O
grupo que chegou ao poder não conseguiu pacificar o entendimento de qual seria
o modo de operar a relação com o Congresso Nacional.
Foi a partir da percepção dessa indefinição, que os
parlamentares fisiológicos e oportunistas viram na candidatura de Rodrigo Maia
para comandar a Câmara dos Deputados o melhor caminho para alimentar a sua
voracidade por verbas. A estrutura foi tão inescrupulosa que até mesmo a
Propeg, que mantém contratos com o Governo Federal, fez a campanha de marketing
de Rodrigo – cabendo-lhe o direito de indicar o chefe de sua assessoria de
comunicação na presidência da Casa.
Vitorioso o parlamentar carioca, envolvido até o talo com
suspeitas de corrupção e de se beneficiar de recursos não contabilizados, ele
colocou em jogo aquilo que seus pares esperavam: passou a atacar e a hostilizar
o governo, menosprezando as ações presidenciais e sempre tentando colocar-se
como a eminência parda disposta a se sacrificar para salvar o Brasil.
Percebendo que a luta interna no governo federal em relação
ao modo de se relacionar com o Parlamento ainda não estava resolvida, Maia
resolveu usar a Constituição parlamentarista que está em vigor no Brasil para
fustigar o governo com derrotas pontuais, tratando de atender às demandas nada
republicanas de sua ávida base parlamentar de apoio – Centrão e esquerdas – e sua
interface nos meios de comunicação, garantida pela indicação de um preposto da
Propeg para um cargo chave e de relacionamento com veículos.
Negociar acordos, pontos e propostas é parte do jogo
político, mas isso é bem diferente de se posicionar como refém de uma banda
fisiológica dentro do Congresso Nacional. Os governos da era Lulo/petista
(Lula, Dilma e Temer) repetiram um figurino que começou a ser construído a
partir da chamada redemocratização. O modelo perverso veio sendo “aperfeiçoado”,
para o mal, ao longo de sucessivos ajustes na bandalheira – até chegar a um
estágio de a turma do mal comandar o país.
Esse é o quadro que hoje vivemos e que resulta na manutenção
de um impasse artificial, mas que interessa e muito aos que se acostumaram com
a arte de barganhar e de chantagear.
Nas urnas, os brasileiros deram mostras de cansaço em
relação ao jogo sórdido, sujo e perverso praticado pelo Centrão. Parece que os
parlamentares já se esqueceram da voz das ruas – e por essa razão, o povo começa
a se mobilizar para voltar as ruas. Para se fazer ouvido, escutado e respeitado
outra vez.
Afinal de contas, na sua opinião, caro leitor: é possível governar o Brasil sem o Centrão ou será preciso que Bolsonaro passe a aderir ao modo promíscuo de fazer política para sobreviver?
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