Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Em tempos de internet, dar holofotes a mitômanos é um risco

por | 21/05/2019 | 0 Comentários

Costumo dizer que todos nós temos uma idade para mentir, outra para contar mentiras. O problema é quando a mentira passa a ser a forma de reinventar a própria realidade

Nos anos 80, ainda morando em Florianópolis, comecei a
escrever um romance que nunca foi além dos capítulos iniciais e que um dia
pretendo retomar a escrita. Lembro do nome – Diâmbole e Partianíse. Óbvio que
também lembro do foco: uma pessoa comum que cansada de seu mundinho medíocre e
onde nada de relevante acontecera ou acontece, cria um personagem para si
próprio. Era um tempo no qual ainda não havia internet, computadores e máquinas
de escrever elétricas eram raridade.

Não era apenas uma pessoa com uma patologia mitômana, porque
ele continuava mantendo a plena consciência do que era fictício e o que era
realidade, numa separação inclusive do ambiente no qual era um e onde podia
assumir-se no papel de outra pessoa.

O problema é que a partir de um determinado momento, dentro
do mundo e das coisas da ilha que é Capital de Santa Catarina, começam a
acontecer intercessões da realidade na ficção e vice versa. E ele passa a ter
dificuldades em saber quando é um e quando é outro. Parei de escrever o romance
quando começa o embate entre o real e o imaginário em nível da necessidade que possuem
de eliminar o outro. A existência de um passou a ser perigosa para o outro, de
modo que a extinção passou a ser a única alternativa – porque eles têm medo de
serem descobertos em suas realidades.

No entanto, qual deles era, naquele momento, o real e qual o
imaginado?

Bom… foi nesse estágio do romance que parei com a escrita –
com medo de eu próprio ser abduzido por um ou por outro, ainda que em nada
fosse autobiográfico.

Por que falo acerca de um romance que ainda não está pronto?

Tem sido cada vez mais comum o surgimento de figuras com
personalidades mitômanas – mentiroso compulsivo, mente com tanta convicção que
é capaz de crer na própria mentira. Faz da mentira sua principal qualidade.
Adquire dependência da mentira e passa a ter necessidade de mentir. E mesmo
quando descobertos em sua patologia, insistem em vitimizar-se, em se colocarem
como perseguidos.

Nos últimos tempos tivemos dois exemplos bem expressivos de
figuras que, a despeito de seus atributos, buscaram na mentira, uma roteirização
de feitos. A primeira delas foi uma jornalista aqui de Brasília – e já nem se
sabe mais de onde na verdade ela é – a Patrícia Lélis. Ela criou uma personagem
sexualmente infalível e a qual todos os homens desejavam estuprar. Hoje, seus
relatos caíram no descrédito, mas muita gente embarcou na onda e muitas pessoas
tiveram suas vidas expostas pelas elocubrações mentais dela.

A segunda é a professora Joana D’Arc Félix de Sousa, de 55 anos. Dona de uma história pessoal de superação e por isso mesmo digna de todos os elogios e reverências, ela sentiu necessidade de dar ao seu feito ares de conquista heroica, adulterando vários aspectos de sua trajetória – sendo que a falsificação do diploma de pós-doutorado em Harvard foi apenas aquele incidente que acabou desmontando boa parte da sua incrível trajetória pessoal.

Depois de mentir desavergonhadamente sobre o tal “pós-doutorado”,
eis que outros aspectos de seu discurso começaram a ruir: a idade na qual
entrou na faculdade, as patentes em seu nome e os prêmios conquistados. E a
história dela que serviria de base para um filme, de repente virou apenas mais
um caso clínico a ser estudado por psiquiatras e psicólogos.

Não me sinto confortável em ridicularizar tais pessoas,
porque elas precisam de tratamento – para que não prejudiquem terceiros, no caso
da jornalista, e não deslustrem uma trajetória pessoal de superação no caso da
segunda.

Em lugar de expô-las, é preciso apenas tratá-las como
pessoas doentes.

Tiroteio

– A estadual Janaína Paschoal (PSL-SP) resolveu chutar o pau
da barraca, daquela forma histriônica e circense que sempre usou. Agora, depois
de ter surfado na onda de Bolsonaro e com isso angariado muitos miles de votos,
ela quer largar o partido e trocar de legenda. Esquece ela que o mandato é da
legenda e não vai ser por um piti pessoal ou uma lombra momentânea que ela vai
trair impunemente quem votou nela exatamente por estar aliada a Bolsonaro.

– Nem mesmo o apoio e a solidariedade dos sites de esquerda, além do trabalho de sua troupe virtual, foram suficientes para estancar a perda de inscritos no canal do MBL. Depois de atacarem o presidente Bolsonaro, vídeo retirado do ar durante a tarde, e de se posicionarem contra as manifestações do dia 26, a rapaziada conviveu com uma perda acelerada de inscritos e deve começar a terça-feira, 21, com pouco mais de 1,3 milhão de “afiliados”.

– Depois de blefar com a irresponsabilidade e com a promessa de apoiar a iniciativa do centrão de apresentar uma proposta de Reforma da Previdência mantendo todos os privilégios, o federal Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados, voltou atrás e mudou o rumo da prosa. Sabe que a situação para o seu lado está complicada e ele pode ser o primeiro presidente da Câmara dos Deputados a ser preso no exercício do cargo.

– Por falar em MBL, a turma da rapaziada despojada e que
sonha ser uma espécie de PSDB/DEM limpinhos logo-logo, encontrou no porta-voz
da bandalheira o seu defensor. Agora sim que a coisa vai ficar bonita…

A despeito do erro de português, vale a pena colocar assim mesmo, para quem ainda não entendeu saber porque parlamentares e as grandes corporações de servidores públicos são contra a Reforma da Previdência proposta pelo governo Bolsonaro…

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