Ciente de que sua estada em alguma prisão será bem mais longa do que esperava, ele continua, como chefe, determinando ações
Por Alfredo Bessow
Nem bem a eleição terminou e o PT, principal derrotado e principal razão pela derrota, continua com a postura de acreditar que os outros devem se curvar. Sem nenhum senso de civilidade, o discurso de Haddad, em lugar de reconhecer o recado que as urnas acabavam de enviar, buscou colocar-se como paladino em defesa da liberdade. Em nenhum momento teve a grandeza de reconhecer (ou ligar) os méritos de quem venceu. Em nenhum momento teve a dignidade de dizer que o povo tinha razão em alijar o PT do poder pelas barbaridades que o partido cometeu ao longo de quatro mandatos – período que se encerra em 31 de dezembro com a saída de Temer, o vice de Dilma (PT), eleito em 2014.
Ainda na sala especial no prédio da PF em Curitiba, Lula é a própria contradição do ser humano. Em sua defesa perante os tribunais, confrontado com denúncias e delações, imortalizou o bordão de “eu não sabia de nada” quando estava livre e no comando da presidência. Uma vez com acesso limitado, de tudo sabe e em tudo quer ser definitivo.
A disputa para saber quem vai liderar a oposição não passa pela vontade de um encarcerado, a despeito de tudo que ele representa dentro da história do País, mas pela dialética da sociedade. Será ela quem irá decidir quem pode falar eventualmente em seu nome – porque se é correto dizer que os 57 milhões de votos que Bolsonaro alcançou representam um conjunto de rejeições ao que temos no país, mais correto ainda é dizer que dos 47 milhões de votos é preciso pensar ao menos em uns 20 milhões de votos que migraram para a chapa do PT pelo estado de medo que a própria mídia ajudou a criar.
Visto de longe, é plenamente justo o anseio de Haddad – mas a realidade indica que nesse momento, o papel de condutor da oposição está muito mais afeito a alguém com capacidade de dialogar com os diferentes do que quem se orgulha de saber falar apenas para os seus iguais. Alguém com a serenidade de reconhecer os erros, do que alguém que se ufana de tê-los cometidos.
Os brasileiros esperam uma oposição que ao menos prime pela inteligência de aceitar e reconhecer a derrota.
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