Mas existe um trabalho muito grande a ser feito também com quem manipula as verbas publicitárias da Petrobras e do Ministério da Saúde
Por Alfredo Bessow
Faz algum tempo escrevi que o governo de Bolsonaro deveria olhar com muita atenção para os malfeitos que as máfias instaladas nos departamentos de publicidade de empresas públicas, ministérios e mesmo na Secom e a relação espúria – para ser educado – entre as agências e os veículos. Nesse cenário, quem é mais forte tem mais bala, cacife e linha de argumentação financeira para aumentar sua participação nas verbas pelo instituto do BV – Bônus de Veiculação, onde a agência (e o partido que comanda o ministério ou indica o chefe da publicidade de uma empresa pública) ganham mais. Com mais dinheiro retornando, mas dinheiro vai para alimentar uma máquina corrupta e que vinha se revezando, pulando de um lugar para outro desde os tempo de FHC.
A bandalheira possibilitou o enriquecimento de muitos, em detrimento da efetiva democratização das verbas. E o dinheiro da publicidade voltava como Caixa 2 para os partidos que comandavam os ministérios – com negociações cavernosas e escabrosas.
Sem me arrotar em dono da verdade, sei bem o verdadeiro circo que era operado, com a conivência de quase todo mundo.
Lembro de um episódio de uma reunião no Núcleo de Mídia da Secom, quando pela enésima vez fui apresentar minha revista – em busca de furar o cerco. Já cansado de ver o cinismo e a hipocrisia de um grupo de sanguessugas, pessoas desrespeitosas e de uma vulgaridade ao ponto de que, enquanto eu apresentava os dados da minha revista, uma das representantes de uma das agências arrumava o esmalte das unhas, enquanto outra fuçava no celular.
Até que, cansado, soltei os cachorros: sabem por que eu não recebo verba publicitária para a minha revista? Saltaram nas cadeiras e trataram de se recompor. Tendo atraído a atenção, eu tasquei: porque sou branco, heterossexual e honesto.
E ali todos entenderam o meu recado, ao ponto de que tinha um chefete da Secom que fugia de mim mais do que o diabo foge da cruz – e eu me divertia em saber que a minha presença o deixava apavorado.
Virei as costas e sai e a minha revista só entrava no reparte quando o povo da Secom ou dos departamentos de publicidade esqueciam de cortar a revista.
Na verdade, das equipes atuais de publicidade nos ministérios, empresas e mesmo autarquias, é muito pouco provável que alguém se salve, ainda que façam questão de aparentar o verniz da própria santidade. O mesmo em relação ao trabalho das agências de publicidade, que faziam o seu papel técnico, mas muitas delas atuando de modo conivente com a bandalheira oficial.
O desafio será separar o muito joio do pouco trigo que há nessa seara.
0 comentários