O atual momento político nacional revela o quanto os brasileiros gostam da sensação de serem manipulados
Observo, com alegria, o vai-e-vem de muitos amigos – de todos os muitos lados do momento político nacional. Observo, maravilhado, os que antes odiavam a Veja, agora irem às bancas para saber o que ela traz de novidade – o mesmo em relação ao noticiário da Globo em suas múltiplas plataformas.
Já nem me animo mais a discutir, porque vivemos um tempo tão bizarro no qual basta começar uma frase com “na minha opinião” e já chovem estereótipos. E vou ser bem claro e didático: não existem exceções. É todo mundo com o mesmo posicionamento rancoroso, exclusivista e cheio de sabedorias.
Para que fique registrado: o problema dos meios de comunicação não é se “A” ou “B” é democrático ou autoritário. O que está em jogo é se “A” ou “B” aceita fazer negócios com os donos dos meios de comunicação. O resto é balela.
No Brasil, todos os meios de comunicação vivem e sobrevivem de recursos públicos – não apenas a publicidade em si, mas a comunicação como um negócio. Todos os governos – com exceção do PT, que pensou ter cooptado a Globo com dinheiro e conivência em financiamento, em execução de dívidas – criaram os seus “próprios” grupos de apoio. Tudo teve o seu tempo: os Associados, a Tupi, a Manchete, a Globo, a Abril, o Estadão, a Folha e grupos regionais sempre tiveram uma relação estreita e de extrema conivência e cumplicidade com o governo.
O que difere, nesse momento nacional, é que pela primeira vez um candidato diz clara e abertamente que vai cortar as verbas da Globo – e volto a dizer, não é apenas a publicidade que está em jogo, mas muitos fatores de ganhos indiretos e benefícios.
Então, essa mobilização – que é fator importante da construção da cidadania – não é por apego à democracia e aos valores de liberdade. O que está em jogo é apenas o dinheiro público. Imagina se o conglomerado Globo – e suas trocentas mil pernas e bocas que sugam dinheiro público – de repente ficarem sem acesso ao dinheiro fácil que emana das “tetas” do governo?
Imagina se, de repente, o BV deixa de existir – como ela e tantas outras vão sobreviver em um ambiente de competição? Como pedir que alguém que apenas sabe competir contando com o braço oculto do dinheiro público, de repente tenha que se virar apenas como empresa normal?
Ao contrário das pessoas que estão preocupadas com os seus valores, com os seus parâmetros de vida e de liberdade, os meios de comunicação estão preocupados apenas e tão somente com as eventuais verbas que podem perder – até porque, no Brasil e no mundo, a comunicação é apenas um negócio.
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