Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Com Lira, Centrão CONTINUA comandando a Câmara dos Deputados

por | 02/02/2021 | 0 Comentários

A eleição para a presidência da Câmara dos Deputados – o 3º na linha de sucessão – foi antes de tudo uma derrota para Rodrigo Maia e a revelação que a banda rancorosa naquela casa hoje é mais ou menos a mesma base que votou contra o impeachment de Dilma (145 hoje, a 137 no passado)

A esquerda e a mídia, tal qual irmãs siamesas em
imbecilidade e estupidez, buscam recriar a verdade, reinventar a realidade e
criar um mundo no qual apenas a narrativa delas é verdadeira. A vitória de Lira
não significou a vitória do Centrão, mas apenas e tão somente a continuidade do
comando da Câmara dos Deputados nas mãos deste grupo de parlamentares que veio
sendo formado desde os tempos de Sarney, foi tonificado nos governos de Itamar
e FHC e se transformou em sinônimo de podridão, roubalheira e facção criminosa
nos tempos da cleptocracia lulo-petista (janeiro de 2003 até janeiro de 2019).

É uma acintosa omissão esquecer que Rodrigo Maia sempre fez
parte do Centrão, sendo figura típica do baixo clero do Congresso Nacional:
larápio, louco por verbas e capaz de qualquer coisa por cargos – quase que uma
herança pessoal e familiar.

Até nisso Bolsonaro poderá ajudar o Brasil e a classe
política nacional: civilizar a voracidade e a gula do Centrão. Não há nada de
errado na negociação e na barganha política, o que está errado é o processo de
metástase institucional que começou quando FHC distribuiu dinheiro em espécie
no Congresso Nacional para aprovar a emenda da reeleição – e eu sei porque na
época eu estava no dia a dia lá e TODA a imprensa sabia, até porque o
boquirroto Sérgio Motta fazia questão de falar quem ele estava comprando e
quanto ele estava pagando. Os coleguinhas de então, seduzidos pelo poder de
FHC, foram coniventes e cúmplices.

Não quero ser pessimista demais, mas dentro deste modelo de
presidencialismo de cooptação e com mais de 30 partidos, com um sistema que
perpetua grupos no poder e que torra dinheiro público nos fundos partidário e
eleitoral, que mantém essa verdadeira excrecência de horário eleitoral gratuito
– que nada mais é do que um horário que a sociedade acaba pagando – e em um
país que convive com a miséria endêmica do seu povo e mesmo assim teima em
dilapidar os escassos recursos públicos de que dispõem para sustentar centenas
de estruturas de administrações municipais que não arrecadam o suficiente para
pagarem suas contas de água, luz, telefone, cafezinho e combustível – já
ficarei feliz se em lugar de um estorvo como o Maia estiver um corrupto
palatável como o Lira.

Podem dizer que meu nível de exigência é baixo, mas depois
de mais de 30 anos convivendo com a realidade do Congresso Nacional tenho que
ser franco ao menos comigo e sincero com quem se dispõem a me ler: aquilo que
nós criticamos e achincalhamos é o retrato acabado do eleitor brasileiro.
Porque não quero ser indelicado com ninguém, mas cabe lembrar que todos ali
chegaram pelo voto do cidadão – ainda que, para mim, alguns foram eleitos mais
com respaldo em algoritmos do que verdadeiramente pala via eleitoral.

A parte derrotada na eleição de ontem – e foi, como se diz
no jargão popular, uma verdadeira surra – vai continuar contando com a mídia
como câmara de eco de seus guinchos e relinchos. Mesmo megafone que estará ao
dispor da banda mais voraz do grupo do Centrão, aquele que tem uma compulsão
quase que “Botafoguina” por cargos, dinheiro, luxúria e poder.

Bom começo

Para meu gosto pessoal, Lira começou agindo de modo cirúrgico acabando com o oportunismo que sempre marcou a ação das esquerdas neste conluio: o bloco de apoio a Baleia desrespeitou o horário e registrou a adesão da corja muito depois do horário. Em lugar de discutir e bater boca antes, Lira foi cirúrgico e como primeiro ato anulou a bizarrice de Maia e chamou para novas eleições para os cargos na Mesa durante a terça-feira, dia 2 de fevereiro. Exatamente como deve ser.

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