Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Em política, não existe como recuperar o tempo perdido em passe de mágica

por | 19/08/2020 | 0 Comentários

Muitos conservadores querem que o governo Bolsonaro recomponha uma realidade que veio sendo aparelhada ao longo de mais de um século de ações de fortalecimento do ideário esquerdista

Costumo dizer que enfatizar a limitação cognitiva e a
redução intelectual de esquerdistas não se trata de desprezo ou arrogância por
aqueles que foram abduzidos pelo conceito de negação da vida e de destruição do
viver e de seus valores, mas constatação da realidade e não ter pudor em
denunciá-los é ter clareza sobre o que anda acontecendo. E que, por isso mesmo,
é preciso expô-los ao ridículo – para mostrar quem são, de onde vieram e o que
sempre buscaram.

Enquanto apenas agora os Conservadores tentam se estruturar
de modo digamos orgânico, os comunistas, em suas múltiplas variáveis de siglas
e nuances, vêm se organizando, se estruturando e se inserindo no cotidiano dos
brasileiros desde o advento da República, inicialmente com os anarquistas e
depois, a partir de 1920, com militantes daquele grupo que buscavam uma ação mais
coordenada de suas ações e um tipo de condução diferente do movimento que ainda
era disperso – lições que eles aprenderam com as greves em nosso País entre
1916 e 1919.

É importante destacar estes aspectos, porque existem Conservadores
que de repente querem resolver décadas de aparelhamento do Estado brasileiro –
bem como de sua cultura, educação e mais tarde comunicação – em um passe de
mágica. Só para que as pessoas tenham noção do processo de enraizamento do “pensamento”
esquerdista em nosso país, a primeira estrutura comunista no Brasil remonta a
1918, quando anarquistas simpatizantes do comunismo e decepcionados com a falta
de rumo dos adeptos de Bakunin criaram a Liga Comunista de Livramento (RS),
fronteira com o Uruguai.

E uma das características dos comunistas foi a de sempre
priorizar a formação de militância e de quadros, através de cursos e
patrulhamento social. Com forte atuação na cultura, principalmente na
literatura, nas artes plásticas e depois no teatro, e na educação. A “esquerdização”
da mídia é um fenômeno mais recente e que na verdade se acentuou a partir da
segunda metade dos anos 60.

Ou seja: eles estão faz décadas e mais décadas disseminando
um ideário político, impondo a visão hegemônica da qual Gramsci tanto fala e ao
mesmo tempo valendo-se de aspectos de coerção, silenciamento e constrangimento a
quem não se pautasse por tais axiomas. Este fenômeno é, por sinal, exposto de
modo lapidar por Elisabeth Noelle-Neumann, cientista política alemã, no que ela
denominou a Teoria da Espiral do Silêncio.

De forma muito astuta eles foram ocupando os espaços
inclusive pela negação ética de certos exercícios da cidadania, como por
exemplo insistir na tese e no discurso de que política é coisa suja, é coisa de
bandidos. Enquanto trabalhavam o discurso da negação, eles iam ocupando os
espaços – de forma muito astuta, valendo-se de estruturas herdadas do fascismo de
financiamento deste projeto e utilizando-se de uma junção de práticas típicas
do comunismo e do nazismo.

A perplexidade dos Conservadores com o quadro nacional –
aparelhamento da máquina pública, transformação das estruturas estatais em
grupos dominados e a serviço de corporações e outras mazelas – revela que
muitos estavam realmente adormecidos e entorpecidos. Lembraram em certo sentido
a história do sapo na panela. Felizmente, os conservadores despertaram como se
diz aos 45 do 2º tempo, mas ao menos ainda em tempo de forçar uma prorrogação e
não sucumbir a morrerem na água escaldante.

Virar o jogo passa por ir em busca do tempo perdido – o que
implica em criar uma base de informação que possibilite o enfrentamento
político. Mas acima de tudo, virar o jogo passa por manter-se vivo e unido no
jogo, sem esperar que um quadro que foi sendo destruído ao longo de um século
possa ser revertido em um passe de mágica – e este é o primeiro passo, na
verdade, ainda muitos conservadores continuam tateando a realidade e se
deparando com uma situação de metástase do tecido social.

O que difere o momento atual é que os Conservadores saíram
do armário e ao contrário do que aconteceu em outras oportunidades, decidiram
eles próprios participar da jornada de reconquista do Brasil para os
brasileiros.

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