O recuo da Globo em relação ao conteúdo da reportagem da Época é algo que raramente acontece. Por que a Globo tomou essa atitude?
O anúncio de que a Globo, em última análise, havia reconhecido a leviandade editorial cometida pela direção da revista Época e em nota oficial tentou se desculpar e dizer que os profissionais haviam ultrapassado a tênue linha que divide a militância política e a partidarização que os profissionais de comunicação passaram a adotar, a partir da vitória de Bolsonaro, e o exercício do jornalismo.
Quando Amaury Júnior anunciou que as cabeças haviam rolado na
redação, surgiram três versões muito bem identificadas.
Os sites e blogs do campo da esquerda – que ainda sobrevivem com a gordura que acumularam em muitos anos recebendo muitos e muitos milhares de reais por mês dos governos petistas e hoje mantêm acordos de sobrevivência com governos estaduais, com sindicatos e mesmo associações de trabalhadores – claro que consideraram um absurdo que os três militantes tivessem sido demitidos.
Para esses sites e blogs, a demissão foi uma forma da Globo bajular Bolsonaro: a entrega das cabeças seria uma forma simbólica e até certo ponto Bíblica. É uma interpretação infantil, besta e que retrata o nível de estupidez e a incapacidade que esse povo tem de entender que realmente a equipe da Época propiciou um dos mais degradantes exemplos daquilo que um jornalista militante não deve fazer e uma publicação que se quer plural não pode aceitar.
A segunda versão foi do pessoal da Direita que passou a ver naquela atitude que a revista assumia seu erro e que realmente todos tinham razão em externar seu repúdio e sua manifestação de desprezo pela vilania e irresponsabilidade dos militantes, travestidos de profissionais.
E a terceira versão foi aquela que a Globo manifestou em
nota reconhecendo que o assunto estava em confronto com os princípios éticos
das publicações e dos conteúdos dos produtos que a Globo oferece. Fez um imenso
contorcionismo vocabular para dizer que mesmo que pudesse fazer, não deveria
fazê-lo e que mesmo não sendo crime – e foi crime, sim! – não deveria ter sido
abordada daquela forma. E fez loas ao seu compromisso com a ética…
Cada qual tentou adequar à realidade ao seu discurso: a
esquerda dizendo que os profissionais foram jogados aos leões; a Direita
pensando que a Época reconheceu o erro e a própria revista dizendo-se o
verdadeiro “repositório” dos valores éticos do jornalismo.
Mesmo errados, claro que os três têm razões para justificar sua visão do fato. Quando a esquerda diz que eles foram sacrificados, fala algo óbvio – porque toda publicação sempre passa por um gatekeeper, a quem resta avaliar se tudo está dentro da filosofia da publicação e dos interesses da empresa. A Direita, por sua vez, também está correta em pensar que foi a reação em cadeia nas redes sociais que levou a empresa a tomar uma atitude inédita – e você pode acessar o vídeo com o meu comentário a respeito clicando AQUI. Por fim, a editora justifica a reação amparada em manuais internos que nunca devem ter sido usados – porque a tal da revista e a Globo já cometeram atrocidades muito maiores.
Na minha avaliação o que aconteceu foi apenas a percepção por parte da Globo que o boicote às assinaturas estava impactando financeiramente a publicação e os anunciantes da revista estavam com receio de continuar veiculando mídia temendo boicote dos aliados de Bolsonaro nas redes sociais – e conversei cobre isso com diretores de algumas agências de publicidade que atendem anunciantes da iniciativa privada.
Este episódio, por sinal, indica o único e verdadeiro caminho para forçar a mídia a parar de ser tão leviana em seu noticiário. Não adianta chamar de #globolixo e assistir a programação – AQUI meu vídeo sobre a importância de boicotar a TV Globo. Não adianta reclamar da porcaria de cobertura do uol e mantê-la como página de abertura do computador.
O episódio da Época mostra – como antes funcionou contra O Boticário e outras empresas com campanhas publicitárias ofensivas a valores e referências éticas relevantes para a maioria da população – que a única forma de provocar uma mudança é através do boicote.
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