Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Holofotes seduzem ministros do STF e tornam brasileiros reféns do exibicionismo

por | 06/11/2019 | 0 Comentários

O ex-deputado Ulysses Guimarães costumava dizer que os políticos eram iguais as mariposas. Não podiam ver um pau de luz e corriam desesperadas até lá. Hoje, a imagem cabe como uma luva para ministros do STF

Cheguei em Brasília em fins de abril de 1987 para trabalhar
junto a um senador e também assessorar tecnicamente a Subcomissão da Questão
Urbana e de Transportes da Constituinte. Quem vive os tempos de hoje com
instantaneidade no fluxo de notícias e informações não pode imaginar como era a
vida nos tempos nos quais o que havia de mais moderno era o telex. Usar o fax
era algo restrito.

Como sempre apostei muito no rádio como o veículo para
atingir uma maior parcela da população, lembro que comprava caixas e mais
caixas de fita k7 e mandava com entrevistas para as emissoras de Santa Catarina
– que naquele tempo tinha 198 municípios. Mandava pelo Correio, porque os
Correios antes do PT, funcionavam…

Fazia entrevistas não apenas com o senador ao qual estava
funcionalmente ligado, mas também com outros parlamentares de SC. Lembro que
mandei uma entrevista com o Ulysses Guimarães, onde ele falava da sedução que
os parlamentares tinham pelos chamados “paus de luz” que as TVs usavam como
parte da parafernália daqueles tempos. Dizia ele que os políticos são iguais a
mariposas, não podem ver um pau de luz que logo acorrem ao local.

Hoje, as mariposas de plantão são os membros do Judiciário,
mormente do STF.

Em uma comemoração reservada na qual estava presente o então já ex-ministro Joaquim Barbosa ele alertava para o fato de que a transmissão ao vivo dos julgamentos iria transformar uma casa que deveria se pautar pela sobriedade, em uma busca de holofotes, luzes e popularidade. Barbosa que ficou célebre pela forma como conduziu o julgamento da AP 470 – o Mensalão do PT – e pelos embates virulentos com o ainda ministro Gilmar Mendes, tinha razão. Na mesma conversa, alertava ele que votos que normalmente demandariam 10 ou 15 minutos, com o tempo se transformariam em verdadeiros suplícios – pela ambição de ficar mais tempo ocupando a transmissão da TV.

Outra vez ele acertou. Basta observar que muitos votos são
vazios de conteúdo e demandam horas e mais horas de leitura enfadonha – porque a
voz dos ministros, via de regra, são irritantes, insuportáveis e purgativas.
Exemplo clássico foi o voto da ministra Rosa Weber, tentando justificar o
injustificável, apenas para cumprir parte do ritual a ela reservado em acordos.

Hoje, por exemplo, está prevista a retomada da votação sobre
se o Brasil se mantém entre aquelas nações com respeito básico aos princípios
de civilidade e continua com a prisão após a 2ª Instância ou se iremos regredir
juridicamente apenas para contemplar os interesses daqueles que foram
responsáveis pela indicação da maioria dos membros da atual composição do STF.

Temo o acirramento dos enfrentamentos, porque tudo indica
que o STF irá deliberar no sentido de liberar o chefe – tanto assim que já
existem informações de que se formam caravanas com destino a Curitiba para
esperar a libertação do ex-presidente que comandou o maior esquema de roubo e
de corrupção da história política nacional.

Tenho a impressão que a busca de protagonismo por parte de
ministros do STF os conduziu a um tal nível de comprometimento de seus votos
que, mesmo sabedores de todos os riscos, preferem cumprir os acordos que os
levaram até aquela casa e jogar o Brasil numa espiral de consequências
imprevisíveis. Como se deliberadamente quisessem colocar fogo no circo…

QUICANDO

* O espetáculo deprimente da banda do PSL ligada ao Luciano
Bivar teve ontem mais uma sessão pastelão, com a rechonchuda Joice Hasselmann
mostrando seu viés de artista e suas lágrimas de cortar… cebola.

* Tipificados como “traíras”, o grupo se arrasta pelos
corredores como se fossem zumbis humanos. Muitos deles são tratados com
desprezo até pelos caciques do baixo clero e mendigam para que sejam aceitos no
banquete fisiológico do Centrão.

* Quer dizer que a Globo, o Witzel e outros roteiristas
demoraram 11 meses para montar a farsa de aproximar Bolsonaro do assassinato de
Marielle – quando um ex-assessor de Lindberg Faria já disse ser ele um dos
autores do crime?

* A fuga de anunciantes da Globo é algo real – ainda que o
impacto financeiro seja pequeno, porque a maior fonte de “renda” do grupo está
inclusive em ganhos por conta de aplicações no mercado financeiro. Também por
isso o grupo Globo tenta manter uma pauta negativa em temas que mesclam
economia e política. Ainda que a realidade sirva para desmenti-los.

* O pacote de medidas econômicas encaminhado pelo governo
agora depende do humor dos congressistas. Como a sociedade já se deu conta de
que esse Congresso é uma confraria de punguistas, pode-se esperar que haverá
muita pressão para que o Brasil continue atrelado ao passado.

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