De repente, pessoas que se elegeram sob um discurso de mudanças, mudam e se aliam ao que antes combatiam. No Brasil, mais do que a ideologia, é o oportunismo que define quem é quem no jogo político
Um recado para quem me escuta: não sou santo e nem tenho
pretensão a sê-lo. No entanto, vivo a vida segundo padrões éticos que balizam
meu comportamento, que criam limites e zonas obscuras por onde evito me
embrenhar. Brasília, por ser a sede do poder nacional e concentrar de certa
forma tudo aquilo que conceituamos como poder, te oferece atrativos, seduções e
armadilhas.
Vou repetir: não sou santo – ainda que isso cobre um preço
que eu decidi pagar, por temência a Deus, por formação familiar tanto minha,
como do núcleo familiar ao qual acessei pela paixão e continuo pela permanência
dos vínculos que existiram lá no agora já distante passado. Na verdade, o
preceito ético e os valores acabam sendo pagos também pela família que, nem
sempre, é devidamente valorizada.
Fico pasmo como as pessoas são efêmeras em suas convicções.
Não considero feio ou errado a pessoa mudar de ideia ou de opinião – porque
esse é o processo natural da vida, do questionamento quase que kantiano das
convicções. A dialética é algo muito mais presente em nosso cotidiano do que as
pessoas podem imaginar e é a partir da sua formulação que passamos a reiterar
aquilo que defendemos ou alteramos nossos pontos de vista, forçados pela
realidade e pela descoberta de novos fatores.
Eu, por exemplo, votei no PT – ainda que jamais tenha sido
militante ou filiado ao partido. Considerava muitas de suas teses como
oportunas e socialmente justas. No entanto, a realidade da prática política do
partido no poder desnudou a ingenuidade que eu tinha e me dei conta que o único
objetivo real era roubar, roubar e roubar – dilapidando cofres públicos,
transformando o governo numa verdadeira confraria de ladrões. A corrupção que
antes era uma prática condenável, inclusive pela esquerda em geral e pelo PT em
particular que se arvorava em dono dos conceitos éticos, se transformou em
norma administrativa. Se FHC usou os recursos dos fundos de pensão até o limite
da irresponsabilidade durante os processos de privatização do seu governo, no
governo do PT, a roubalheira foi tanta, tamanha e sistemática que levou à lona
o Funcef, o Postalis, o Petros e outros fundos.
Nessa semana, o STF deve definir a questão da prisão em 2ª
Instância e o que a gente percebe é que os defensores da impunidade, da
liberdade dos corruptos e dos ladrões de recursos públicos não se sentem
constrangidos em mudar de opinião não como decorrência de uma mudança de
paradigma, mas apenas por conveniência.
A eletividade e a seletividade ética revelam que vivemos em
um país onde as circunstâncias e as relações promíscuas que se estabelecem no
submundo da prática do poder valem mais do que as ambições da sociedade e as
convicções em valores éticos e morais.
Não sou santo. Mas me falta estômago para aceitar como
normal uma realidade com a qual eu convivo. Por necessidade profissional e da
qual não me sinto tentado a fazer parte por convicções pessoais, familiares e
religiosas.
QUICANDO
* Clima de apreensão no ar em Brasília: o julgamento sobre a
prisão após a 2ª Instância é, para muitos, apenas a ponta do iceberg. O que a
corte quer mesmo, para instaurar o caos e restaurar o reino da bandidagem, é
acabar com a Lei da Ficha Limpa.
* A despeito do meu gremismo, é óbvio que eu sei a força e o
peso da torcida corintiana em todo país. Por isso mesmo é estranha a
passividade dessa massa humana em deixar seu clube ser saqueado e destruído
pelo chamado “braço esportivo” do PT, sob o comando de Andrés Sanchez.
* É filha, neta e neto de dirigentes petistas na cadeia com salários sem trabalhar, enteado de desembargador do TJ-SP que recebe pelos serviços prestados pelo tutor – um sem fim de situações realmente delicadas.
* Dê um ex-dirigente corintiano: para vender algo para o
Corinthians há dois pedágios – para vender e depois para receber. “Não se
compra nem um lápis sem pagar comissão”, enfatizou ele.
* O risco é o Curingão virar uma espécie de Portuguesa de
Desportos.
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