Buscando achar o rumo e acertar o tom do discurso com o qual pretendem comandar oposição, petistas destilam as mágoas
Por Alfredo Bessow
Em conversas privadas, petistas que estão fora do círculo da militância cotidiana e que é, por sinal, alimentada pelos capas, ainda não sabem qual o discurso que o partido, ao comando deles, irá utilizar na tentativa de capitanear a oposição – ainda que boa parte do fenômeno de Bolsonaro tenha sido pelo viés anti-petista do deputado federal e hoje presidente eleito.
Entre risos, garfadas na comida e alguns goles, eles destilam as mágoas e, em privado, não escondem o desconforto com os erros primários cometidos pela coordenação de campanha – na avaliação deles. O principal deles a não formação de um arco de alianças de esquerda, ainda no 1º turno, sem a primazia e o comando do PT. Mas as ordens emanadas de Curitiba falaram mais forte, dizem eles. E tais decisões acabaram pavimentando o caminho para uma derrota.
Temem pelo futuro e dizem nem precisar torcer pelo insucesso de Bolsonaro, algo que, segundo eles, será natural – fruto das contradições do presidente eleito e de alguns terrenos minados nos quais deverá se movimentar. Indagam, uníssono: “como ele vai defender os privilégios dos militares em eventual reforma da Previdência, enquanto que a classe trabalhadora pagará a conta?” Fazem questão de dizer que não estão entre aqueles que torcem pelo “quanto pior, melhor”. Mas não acreditam no êxito do próximo governo.
“Ele pode dar certo, o que seria fatal para nós”
Mas, é claro, dizem que Bolsonaro pode “dar certo”. E que isso poderá ser fatal para a própria sobrevivência do partido – e já nem falam em termos de “comandar” a oposição.
Alguns temores são bem claros: o risco de Bolsonaro virar uma espécie de novo “pai dos pobres” com a promessa de dar um 13º para quem recebe Bolsa Família e outros mimos de viés assistencialista. Na avaliação deles, Bolsonaro e seus candidatos talvez tenham folego para surfar na onda até as eleições municipais de 2020 – mas definitivamente não acreditam que ele conclua o mandato em alta. “Se é que ele vai concluir”, destacou um dos interlocutores.
Na conversa, sempre pontuada pela mágoa e a incompreensão, surgiram comparações e uma delas diz que Bolsonaro é a junção do que há de pior em Collor e em Dilma: a incapacidade para o diálogo – além de rompantes e explosões de ira e furia.
Acerca do que pode acontecer “de bom”, ressaltam que Bolsonaro pode se salvar e justificar a sua passagem pela presidência se 1) conseguir implantar a independência do Banco Central; 2) privatizar 70% das estatais; 3) implantar uma simplificação tributária e 4) realizar uma reforma da previdência que contemple um cenário de médio prazo (acima de 25 anos de longevidade).
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