No Brasil, só o crime e a contravenção funcionam de modo exemplar – talvez pelo fato de o governo não botar seu bedelho
Por Alfredo Bessow
Não conheço ninguém equilibrado, lúcido, alfabetizado e de bom senso que não concorde que o Brasil precisa de muitas reformas. Precisamos de reformas urgentes no Poder Judiciário – o mais perverso de todos os poderes, porque não precisa prestar conta de seus atos para ninguém, funcionando quase que como um “país dentro do país”; no Legislativo, com o fim das reeleições sucessivas, diminuição das bancadas em todos os níveis (Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara Distrital e Congresso Nacional; nos Executivos.
Na verdade, é necessário fazer uma verdadeira reinvenção do Brasil – tirando-o de um círculo vicioso que sistematicamente está nos levando do nada para lugar algum. Não há um setor da vida nacional que não precise ser “reformado”. Na verdade, minto: o tráfico e a contravenção funcionam de modo lapidar no Brasil – talvez porque o governo não se meta nas rotinas administrativas, porque o Judiciário não impôs seus ritos e sua indústria de recursos e liminares nos chamados “Tribunais do Crime”.
Tirando o “crime” que é o exemplo de um Brasil que funciona e dá certo de modo sistemático, todos os demais segmentos da vida nacional (pública e privada, estatal ou empresarial) são cheios de vícios, carregados de manias, marcados pelo jeitinho como forma de burlar leis e normas. Não estou interessado em suportar o discurso de que em todos os lugares é assim, simplesmente porque não é.
Claro que não existem lugares perfeitos, mas não precisávamos chegar ao ponto de estarmos vivendo em um país onde só a pilantragem funciona.
Tenho conversado, repito, com muita gente e ninguém de sã-consciência é contra à urgência das reformas – mas todos, de direita e de esquerda, indiscriminadamente concordam. Com a ressalva: desde que seja a partir de mim, preservando os meus direitos e meus interesses.
Claro que não foi Charles de Gaulle quem disse que o Brasil não é um país sério – mas alguém consegue não considerar certa e correta essa sentença que define a todos nós: estado e povo?
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