O risco de perder a liberdade e viver sob um regime ditatorial, comandado por ladrões confirmados em sentenças judiciais, controlados por um Judiciário de viés fascista e uma mídia que prima pela leviandade, patifaria e canalhice, despertou nos brasileiros um patriotismo que ninguém poderia imaginar que continuasse vivo no peito dos cristãos e honestos
As palavras sempre exerceram especial fascínio em mim. Por vezes me deparo até mesmo com o impacto do silêncio e como ele gera interpretações. Foi na leitura da revista Cruzeiro, nas edições dispersas das Seleções e na magia das transmissões cheias de ruídos, chiados e interferências das rádios argentinas que nas noites de chuva acabavam invadindo o dial e engolindo as transmissões da Guaíba, da Farroupilha (antes de ter se transformado numa porcaria, fazendo parte da RBS – Rede Brasil Sul, afiliada da Rede Globo no RS e considerada o verdadeiro câncer que destrói o Rio Grande do Sul).
Sou feito de palavras, imagens, sons e silêncios – memórias que se mesclam e fundem e por vezes confundem ao ponto de não saber ao certo o tempo da memória, ainda que não perca a contextualização de tudo que vai acontecendo.
Por vezes, por exemplo, uso a palavra “engraçado” não para me referir a algo divertido, mas para retratar os indícios de algo trágico. Assim, vivemos um tempo desgraçadamente engraçado, onde a inversão de valores virou norma e a falta de caráter passou a fazer parte do padrão de comportamento de muitos. Mas eu mesmo me dou conta de que isso já aconteceu outras vezes – então: o que há de diferente?
Na verdade, a diferença está em nós. A diferença somos nós.
Ao contrário de tantas e quantas vezes nas quais esperamos o chamado de alguém, somos nós que agora chamamos. Em lugar se seguir, convocamos. E essa diferença de postura e de comprometimento faz toda a diferença, tanto assim que a velha e decrépita mídia pode até nos ignorar, mas o mundo sabe e acompanha a nossa luta ao longo de dias e noites, faça chuva ou sol. E tem sido dias de muita chuva e muito sol.
Independente do desfecho – e está clara qual a minha opinião, desejo e esperança – nós estamos reescrevendo o perfil antropológico do povo brasileiro. E posso lhes assegurar: isso é apenas o começo.
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