Com a proximidade do fim de ano, dirigentes e militantes partidários temem o efeito devastador da solidão sobre o velho morubixaba
Por Alfredo Bessow
Numa tentativa de reanimar Lula e mostrar que ninguém ainda o abandonou definitivamente, os amigos do ex-presidente tentam mobilizar segmentos simpáticos a ele numa jogada para mostrá-lo, mais uma vez, como vítima e, de outro lado, como um resistente. Na tentativa de fazer estardalhaço, há entrevistas por bilhetes, bilhetes para discursos e uma série de “aparições” como um fantasma que não se dá conta de que hoje em lugar de assustar, causa pena, dó e repugnância. E na semana que se inicia, há tentativa de visita de caravanas de parlamentares, ações em sindicatos e até um seminário organizado pelo próprio partido.
Conversei com jornalistas do Paraná nos últimos dias – nem todos da área política, mas muitos deles com amizades e conhecidos que atuam no setor. Lula que já foi a alegria do pequeno e improvisado comércio que se formou nas cercanias do prédio da PF em Curitiba, vai se tornando uma figura cada vez menos relevante no cotidiano das pessoas. Aos poucos, consolida-se a visão de que a sua estada, não na carceragem da PF mas em algum presídio, quem sabe em alguma unidade do Exército, será longa – quem sabe muito além do que imaginam os seus mais fanáticos seguidores.
Até mesmo a prisão domiciliar começa a se transformar em uma impossibilidade, na medida em que novos processos “andam” e denúncias cada vez mais diretas pipocam em delações de antigos fiéis escudeiros.
Há um medo entre dirigentes petistas de que Lula acabe passando o Natal e o Ano Novo na companhia do pessoal apenas da carceragem – quem sabe olhando a queima de fogos pela janela gradeada ou pela TV. Poderá se deliciar com o tradicional show de Roberto Carlos, que passará na TV Globo no dia 21, e lembrar do tempo no qual pipocavam ligações e abraços.
E mais… que esse seja apenas o primeiro Natal aprisionado…
Não há perspectivas de liberdade para ele, por mais recursos que seus advogados apresentem e por mais vontade que alguns ministros do STF tem em retribuir com gratidão pela indicação para a Suprema Corte.
Alguns petistas com os quais converso aqui no DF e em São Paulo já estão perdendo a esperança de ver Lula mascate outra vez fora das celas. Dizem que o cerco vai apenas se fechar cada vez mais – porque até mesmo alguns partidários começam a considerar pouco inteligente vincular sua imagem com a de Lula – principalmente aqueles que irão às urnas em 2020 na disputa de prefeituras e câmaras de vereadores.
Se antes das eleições havia uma verdadeira romaria em busca de uma conversa com o ex-presidente, o quadro atual é distinto. Mesmo Lula dá sinais de que o abandono dos aliados e da falta de perspectivas pela liberdade começa a cobrar o preço no estado de espírito de quem era conhecido pela capacidade de “animador de torcida”.
Claro que o Partido não entrega os pontos, até porque Lula – a despeito de todo seu desgaste – continua sendo um catalizador para a militância e talvez a última esperança de manter a sigla viva. Ainda que ele esteja preso.
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