As redes sociais estão cada vez mais patrulhadas, com a redução do espaço para o diálogo e o respeito ao próximo
Parece que de repente, não mais do que de repente e há dois dias das eleições, os candidatos do establishment se deram conta de que a candidatura de Bolsonaro está consolidada, deixou de ser apenas exótica e perceberam que ela está amparada no anseio latente de boa parte da sociedade por “outras” mudanças – e isso envolve uma série de fatores como segurança, respeito a sua visão de liberdade individual (sim, porque a sociedade como um todo não pode ficar refém dos modismos comportamentais e a pauta definida pela central Globo de novelas e ao povo da zona sul carioca), aos seus valores morais e aos seus conceitos de vida.
Não faço juízo de valor pré-concebido, que é uma característica da academia, onde ou você pensa igual ao conjunto ou você está fora. Recebo relatos de universitários dando conta que muitos professores, antes do início das aulas, ocupam boa parte do tempo na peroração sobre os perigos e os riscos de uma vitória de Bolsonaro.
Já escrevi e vou repetir mais uma vez: não acredito que nem Bolsonaro e nem Haddad irão conseguir “pacificar” esse país, com um enfrentamento latente e onde morem mais pessoas em tempos de “paz” do que em lugares onde há guerra.
Não vejo nenhum dos dois com capacidade de conduzir o equilíbrio – porque não estamos votando em projetos, mas em palavras de ordem, em hastags.
No futuro, porque é para lá que teremos que andar, haverá estudos sobre os efeitos da facada, que ao colocar Bolsonaro em leito de hospital evitou que ele, destrambelhado, falasse asneiras – da mesma forma que ao não participar de debates, se livrou de ser o alvo de ataques de todos os demais candidatos. Mas atribuir seu desempenho a tais fatores é desconhecer que a sociedade “comprou” as suas ideias – porque, volto a dizer, a realidade de quem acorda às 4h da manhã para trabalhar não é a mesma de quem acorda às 10h da manhã para interpretar a vida, os valores e os conceitos pessoais de quem acordou às 4h.
Toda eleição tem muito de pensamento mágico – e tanto Bolsonaro quanto Haddad trabalham no imaginário do eleitor com esta imagem utópica de “volta ao passado”, volta a um tempo de felicidade, de bem-estar e de tranquilidade. Cada qual com o seu viés. Cada qual com suas características e peculiaridades. Querem reinserir o passado como algo mágico que resolva o futuro de todo mundo, quando nem ao seu tempo funcionou assim
Ninguém quer a volta dos tempos de repressão e de terror, mas fica o contratempo de uma cruzada de opressão e pavor que se vive nos dias atuais, com a inversão de muitos parâmetros da vida em sociedade. O ambiente está propício para o patrulhamento ideológico de parte a parte. Até por dever de ofício e para sentir a temperatura, “estou” em vários grupos – e a intolerância é igual, o rancor é o mesmo e o menosprezo pelo “outro” é norma.
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