Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Para a sociedade, está chegando a hora do cabo e do soldado entrarem em ação

por | 16/04/2019 | 0 Comentários

A decisão do ministro Alexandre Morais, do STF, abre um precedente muito delicado e revela o quão desqualificados são os integrantes daquela corte para conviverem com a realidade.

Já disse e escrevi várias vezes: vivemos tempos estranhos, teoricamente já deveríamos estar acostumados a tudo – mas sempre há algo novo a nos surpreender. A partir de um processo bem sucedido de repetição de mantras, vivemos no Brasil a realidade de que a história recente tem sido contada pelo derrotados e eles conseguiram, também por ausência de um contraponto, fazer valer a sua versão. A despeito de todas as informações, tentam negar que em 1964 havia um processo de subversão da ordem. Não interessa ao menos para mim se foi golpe ou revolução. O que conta para mim é que o povo brasileiro teve seu clamor e seu temor escutados. Longe de mim negar excessos praticados por militares, como se aqueles que pegaram em armas o tivessem feito para restaurar a democracia – que é tudo que eles não desejam, nem querem. Basta observar que ainda hoje adoram Cuba, Venezuela, China, Nicarágua, Turquia, Coréia do Norte e outras ditaduras.

Resgato isso quando o Brasil inteiro assiste a essa
verdadeira insanidade perpetrada por um ministro do STF que, sejamos francos,
não possui a mínima condição ética de ser ministro – mas isso não é primazia
dele, porque dos 11 que lá estão, difícil saber qual deles serve para ocupar um
cargo com tal relevância.

Atribuído a Rui Barbosa, a sentença continua lapidar: “A
pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer”.
Depois de Sarney, os governantes trataram de aparelhar o Judiciário – e lá
estão figuras que não chegaram ao nosso arremedo de Suprema Corte por
competência ou saber jurídico, mas pela arte de bajular e de devotarem lealdade
nos assuntos pretéritos, presentes e futuros de quem os guindou ao cargo. E o
STF conspurcou o seu papel de guardião da Constituição e se transformou em uma
desavergonhada e pérfida corte a defender privilégios e a “legislar”,
adquirindo um protagonismo nefasto, indecoroso e doentio.

O STF ou a corte que antes havia com esse papel, nem nos
momentos mais obscuros e sombrios de nossa história se prestou a um papel tão
indigno e tão revelador do distanciamento que aqueles togados ridículos têm em
relação aos anseios da sociedade. Corroído pelo espírito de corpo – que pode
bem ser interpretado como espírito de porco o o STF chafurda na lama e é
desprezado pela sociedade.

O Supremo, que sempre se arvorou em guardião da
Constituição, agora se transformou em um circo decadente de horrores e de
escárnio.

Ninguém advoga qualquer tipo de quebra da ordem
institucional, mas por vezes a gente tem a nítida impressão de que chegou a
hora de um cabo e um soldado botarem ordem naquele antro. Ao menos esse é o
clamor crescente de quem quer, sonha e luta por um novo Brasil.

Tiroteio

– Capitaneado por Rodrigo Maia, o Centrão voltou ao comando
da Câmara dos Deputados. Apoiado pela Bancada da Chupeta, o Centrão agora é
quem define o futuro de todo e qualquer projeto ou proposta do Governo
Bolsonaro. É a vitória da velha forma de fazer política – para alegria do baixo
clero, para azar do Brasil.

– No mínimo ingênua a estratégia do Governo Bolsonaro de priorizar os acordos com bancadas temáticas, em lugar de submeter-se aos acordos com as lideranças de partidos e blocos políticos. As bancadas temáticas não servem para nada e não garantem coesão na votação nem mesmo em assuntos supostamente específicos de cada agrupamento.

Mal comparando: acreditar que os parlamentares que não têm fidelidade e nem compromisso nem com os eleitores e nem com os partidos onde estão abrigados (alguns, escondidos, tipo Aécio Neves – no PSDB), teriam com as bancadas temáticas é olhar todos os filmes do Zorro só porque um gaiato disse que em algum deles, o Sargento Garcia prendeu o homem da capa e da espada.

– A tentativa de priorizar as “bancadas temáticas” foi
válida, sejamos justos e claros. Era a possiblidade de romper com o
fisiologismo. Mas não serviu para resolver o problema da base pró-governo e
pode ter inflacionado o preço de cada voto em momentos decisivos. Com o
naufrágio da proposta, ninguém mais aceita ser o pai da ideia.

– As reiteradas surras que a bancada das redes sociais está
levando em comissões deve ligar o sinal de alerta do Planalto – até porque
parece que cada parlamentar continua pensando que é líder de si próprio, sem
aceitar a ideia de decidir de grupo. Resumindo: o ego continua mais
atrapalhando do que ajudando.

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