Está na hora de jornais e jornalistas aceitarem que o povo não precisa e nem aceita mais ser tutelado por quem quer manipulá-lo
Por Alfredo Bessow
Causa espécie, espanto e atiça os sentimentos de humor mórbido a percepção de que, passados quase 30 dias das eleições em 2º turno e da vitória de Jair Bolsonaro, alguns dos derrotados ainda não se deram conta de que… perderam.
Vivem como que sonâmbulos à espera de que alguém os desperte do sono não para a realidade, mas para um novo sonho, uma nova fantasia. Converso, por profissão, interação, amizade e respeito, com muitos deles. Há vários estágios, mas em todos a mesma percepção de incompreensão da realidade. Eles não conseguem ver méritos no “outro” e nem aceitam erros em si – para eles é como se esse tempo que vivemos de pós-vitória fosse uma partícula suspensa no ar, sem definição do que é, do que representa.
Até mesmo a imprensa vai ter que fazer uma opção nessa encruzilhada: ou ela continua alimentando a pauta negativa de quem perdeu (e isso garantirá venda de exemplares em banca, acessos na internet e solidariedade entre os seus) ou entenderá que as pessoas hoje já não precisam mais serem tuteadas por ela para encontrarem o seu caminho.
Mas nem todos estão assim – ainda que sejam poucos, há aqueles para os quais a derrota tem o poder de ensinar. Parece que o difícil está em encontrar quem queira ter a humildade para aprender.
Ainda hoje pela manhã conversei com um velho e bom amigo petista – desses que não se lambuzaram com a lama da corrupção e nem foram abduzidos pela sedução do poder advindo do direito de pedir um cafezinho, de mesmo sem ter nada por fazer e ninguém por atender, descobriu o imenso e orgástico prazer de fazer alguém ficar esperando na recepção. Falei com ele sobre as maracutaias que a imprensa está começando a descobrir acerca dos bastidores da contratação dos médicos cubanos. Rindo, com seu jeitão despachado, apenas disse: isso é fichinha.
E foi além: os jornais e jornalistas, os deputados e senadores sabiam perfeitamente de tudo e até mesmo acerca da vinculação do repasse para o governo de Cuba, caucionando com o contrato, financiamentos do BNDES. Gargalhando, disse que há um festival de leviandades na expansão de Embaixadas, de dinheiro jogado fora no turismo (sem contar que ex-ministros do Turismo foram presos…), da instalação e escritórios da Apex para contemplar aliados com empregos, salários e benesses generosas.
E antes de encerrar, ele ainda me disse: o governo Bolsonaro terá de fazer uma opção – ou ele esquadrinha as barbaridades cometidas nos últimos anos e alimenta o seu eleitorado com doses diárias de podridão ou ele governa, resgatando os compromissos que assumiu com a sociedade. Segundo ele, nenhum governo consegue fazer as duas coisas. Se optar pela primeira, vai continuar no palanque e em 2022 a oposição poderá voltar ao poder. Se ele resolver governar, é pouco provável que a oposição volte em 2022.
Observe, cara leitor: ele fala claramente em oposição. Não em PT…
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