Alfredo Bessow

Alfredo Bessow é um jornalista, radialista, influenciador e analista político brasileiro com mais de 40 anos de experiência.

Comunicação de campanha é diferente de comunicação de governo

por | 17/11/2018 | 0 Comentários

A vitória de Bolsonaro quebrou muitos paradigmas da comunicação em campanhas eleitorais. E isso dará certo no governo?

Por Alfredo Bessow

Ao manter a comunicação do grupo de transição do futuro governo dentro de uma linha de informalidade e de espontaneísmo, a equipe do futuro presidente na verdade opta por um amadorismo que só serve para alimentar a rede de intrigas e de fofocas. Eleito com o respaldo das redes sociais, Bolsonaro criou uma situação de descontrole que transforma cada um em porta voz de seus próprios interesses, alimentando uma rede de intrigas que se realimenta pela repercussão nas redes. Hoje o chamado “fogo amigo” ainda é uma figura de linguagem, mas nada impede que seja algo bem mais trágico no futuro.

Até onde isso pode “ir” é muito relativo, porque logo-logo as disputas pelo poder dentro do poder realmente estarão de tal modo consolidadas que Bolsonaro poderá se confrontar com uma realidade do governo Dilma – onde não havia propriamente “um governo”, mas grupos de poder que transformaram cada naco (de poder) em uma republiqueta de favores e de corrupção.

Em um governo onde todo mundo fala compulsivamente – presencial, pelas redes sociais ou por transferência de voz – é natural que os ruídos de comunicação existam. O alvo da vez parece ser o deputado federal Onyx Lorenzoni – que a Folha de São Paulo transformou em seu alvo cotidiano, demonizando o parlamentar gaúcho e responsabilizando-o por todos os contratempos. Houve até quem considerasse uma “derrota” de Onyx o aumento concedido pelos senadores aos companheiros ministros do STF. Mas a FSP nem precisa ir atrás da notícia, uma vez que ela chega como parte de pequenas disputas em ujma rede de intrigas…

Sem uma estratégia de comunicação, fica muito fácil definir um alvo e centrar nele toda a artilharia de rancor e ódio que continua ativa nos meios de comunicação. Em certo sentido, algumas pessoas próximas ao presidente eleito parece que gostam de flertar com esse quadro – repetindo, em alguns momentos, a prática de manter uma relação promíscua de alguns que odeiam determinados meios de comunicação e se valem deles para seus objetivos mais mesquinhos.

É sabido que eventuais estratégias de comunicação exitosas em campanhas eleitorais podem não servir para a ação política cotidiana de governo – uma vez que ela se pauta mais pelo voluntarismo empírico do que por uma estratégia fundamentada em criar mecanismos de dispersão da informação para além do círculo de “militantes”.

Em outras palavras: em uma campanha, fala-se primeiro para quem já está “conosco”, fidelizando o voto, e só depois busca-se neutralizar o discurso do oponente. E isso ficou muito claro já na reta final da campanha presidencial em nosso país: com um alto índice de fidelização, amparado na lealdade do voto, Bolsonaro viu a aproximação de Haddad por ele ter mudado o eixo da campanha petista, deixando de falar com os seus eleitores e passou a falar para os “outros” com um discurso do medo e ligando Bolsonaro ao obscurantismo e a tempos sombrios.

O risco é Bolsonaro querer continuar falando apenas para o seu próprio público – deixando que as hienas do egoísmo dos aliados tratem de alimentar os chacais. E, na verdade, esse já é um cenário bem mais real do que seria recomendado.

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