A busca por deixar o governo em posição delicada, de preferência acuada, faz parte de uma estratégia de mercado
Por Alfredo Bessow
Não foi, definitivamente, por falta de aviso: falei, escrevi e publiquei que bem antes da posse, a oposição (que na verdade alia-se estrategicamente com a mídia) iria iniciar o processo do 3º turno, como forma de colocar o futuro governo na defensiva e, desse modo, submeter-se a velha extorsão por verbas publicitárias para os grupos econômicos e a distribuição de cargos para o chamado baixo clero.
Muito foi dito e falado sobre a apropriação da máquina estatal por militantes políticos, mas isso agora pouco importa – porque o processo do 3º turno foi colocado em prática e, pela insistência de boa parte da equipe do futuro governo com a manutenção de uma relação espontaneísta com a mídia, ele é realimentado pelos grupos que buscam se apropriar (ou ao menos se aproximar) do chamado núcleo do poder.
Já disse e repito: o que funcionou na campanha em termos de comunicação não funciona nem em governo de transição e muito menos no exercício do mandato. Mas como algumas pessoas parece sentirem um prazer em querer provar que é possível reinventar a roda, vive-se uma sensação de crise. O governo vira refém e passa a se portar reativamente. Inclusive com a autofagia de grupos forjados não na militância ou nos embates no mundo real, mas criados nas redes sociais – onde basta sair de um grupo ou colocar a pessoa no “ignore”.
Alguns falam e dizem que não entendem essa fúria, mas ela é natural – uma vez que houve uma ruptura não só ideológica, mas a promessa de novos valores como prática política. Como tudo é muito próximo ao círculo do presidente, é natural que isso acabe também chamuscando a figura dele – e esse é o objetivo de toda a estruturação do 3º turno.
Que os envolvidos se manifestem e se defendam. Ou paguem pelos malfeitos.
Ao não ter uma estratégia de comunicação, tudo acaba explodindo literalmente no colo do presidente e de pessoas que são próximas a eles – até porque alguns dos eleitos na esteira das propostas de Bolsonaro possuem o mesmo nível de comprometimento político com o governo eleito que as flatulências têm com o organismo que as abriga.
Mas nada disso importa – porque o que antes era desejo, agora é uma constatação – inclusive com moribundos posando de vestais.
Claro que soa patético você perceber como grupos criminosos se apropriaram da máquina estatal, ao ponto de não terem “visto” a movimentação de bilhões e mais bilhões de dinheiro da corrupção e terem tido o esmero de localizar, e passar para a imprensa pontualmente, a movimentação de algumas pessoas. Mas isso é do jogo.
Cabe ao presidente eleito ter a coragem de tomar as medidas necessárias – não aquelas que a mídia quer ele assuma, mas as que forem necessárias para mostrar o que verdadeiramente está em jogo.
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